domingo, 26 de julho de 2015

Yeshua (Jesus) disse, de certa forma, que evangelismo não importa

Baseando-me nos "Doze Pontos de Berlim", documento do ICCJ (International Council for Christians and Jews), considero o Novo Testamento como literatura judaica do Primeiro Século. Assim, considere os trechos do Novo Testamento abaixo:

"Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então retribuirá a cada um segundo as suas obras." Mateus 16:27

"Quando, pois vier o Filho do homem na sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e diante dele serão reunidas todas as nações; e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; Pois tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era forasteiro, e recolhestes-me; estava nu, e vestistes-me; enfermo, e visitastes-me; preso, e viestes ver-me. Então perguntarão os justos: Senhor, quando te vimos faminto, e te demos de comer; ou com sede, e te demos de beber? Quando te vimos forasteiro, e te recolhemos; ou nu, e te vestimos? Quando te vimos enfermo, ou preso, e fomos visitar-te? O Rei responderá: Em verdade vos digo que quantas vezes o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes. Dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, destinado ao Diabo e seus anjos. Pois tive fome, e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; era forasteiro, e não me recolhestes; estava nu, e não me vestistes; enfermo e preso, e não me visitastes. Também eles perguntarão: Senhor, quando te vimos faminto, com sede, forasteiro, nu, enfermo, ou preso, e não te servimos? Então lhes responderá: Em verdade vos digo que quantas vezes o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. Irão estes para o suplício eterno, porém os justos para a vida eterna." Mateus 25:31-46

"Porque o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o julgamento, para que todos honrem o Filho, assim como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou. Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão. Pois assim como o Pai tem vida em si mesmo, assim também deu ao Filho ter vida em si mesmos; e deu-lhe autoridade para julgar, porque é o Filho do homem. Não vos admireis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida, e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo." João 5:22-29

                Esses textos do NT são muito bons e muito interessantes. Neles todos o próprio Yeshua diz como ele há fazer o julgamento das pessoas. E em nenhum momento ele diz algo do tipo "Aqueles que me aceitarem como senhor e salvador vão para o Céu e quem não me aceitar vai pro Inferno". Se há outros textos do NT que o dizem, pode até ser que sim, entretanto os outros textos não foram ditos por Yeshua. Mesmo no livro de Revelação, quando ele diz "Eis que estou a porta e bato..." não pode ser interpretado literalmente. Alguns dizem que "Yeshua está à porta do coração batendo...": obviamente isso não pode ser entendido de forma literal, pois se assim o fosse, imaginaríamos Yeshua batendo aonde no coração? Entre o átrio direito e a bifurcação das veias cavas? Ou ali perto da aorta? Fica claro que o texto é metafórico. Nós só chamamos alguém pra "ceiar/jantar em nossa casa" se é alguém que conhecemos e temos amizade. E se conhecemos, somos influenciados uns pelos outros e temos um estilo de vida parecido. Assim, se "Yeshua entrar e ceiar contigo" significa muito mais que teu estilo de vida será como o estilo de vida ensinado por ele. E qual estilo de vida ele nos ensinou? O de fazer boas obras.
                Em diversos pontos do relato de Yeshua ele se preocupa com dificuldades físicas das pessoas, e não com a "salvação espiritual" delas. Ele se preocupa com a multidão faminta de pão física e não em fazer um apelo evangelístico. Ele diz em Mateus 25 (o texto citado acima) sobre comer, beber, vestir, cuidar, etc, todas coisas físicas. Pode ser até que muitos dos "bodes malditos" a que ele se refere fossem excelente evangelistas: pregavam, pregavam e pregavam, mas quando alguém precisava de coisas até simples como comida, ele não o dava. Isso é muito sério. Podem citar quem quer que seja, não importa, Yeshua disse que julgará as obras de cada um.
                Como demonstrar amor por Deus? Só amando o próximo. É a única forma. Fazer caridade é forma mais profunda de servir a Deus. Os anjos podem cantar melhor e mais bonito do que ninguém. Mas tem uma coisa que eu nunca vi anjo fazer, e acho que nunca vou ver: nunca vi um anjo dar um abraço em um mendigo, ou comprar comida pra um mendigo, ou roupas, etc. O Eterno, bendito Seja, já nos comandou fazer isso. Se a gente não fizer, ninguém mais o fará. E se não o fizermos, seremos "malditos" diante de Yeshua.
                Pense nisso. Separe 5% do seu salário todo mês pra caridade, isso fará uma enorme diferença. O evangelismo, embora eu seja absolutamente contrário a ele, nunca deve vir antes da caridade. Os filhos do Eterno devem ser "vistos e não ouvidos". Os frutos de uma árvore não são escutados e sim observados. Mostre teus frutos pra todos os que precisarem diante de você.

Edgard MacFraggin'



quarta-feira, 10 de junho de 2015

Leitura de "Os Doze Pontos de Berlim"



O Documento pode ser encontrado nesse link, disponibilizado gratuitamente pelo website do ICCJ. Clique aqui para ler o documento.

Do que ele (também?) nos salvou

Para escrever esse artigo eu me baseei em muitas conversas que tive com uma grande amiga a sra Ana Mariza Fontoura Vidal, que é uma "grande mãe" pra mim. No período em que morei no interior de São Paulo ela me orientou bastante. Assim, muitas das ideias desse texto foram extraídas de reflexões dela ou de reflexões que ela me conduziu a chegar em nossos papos.
                Tenho observado de alguns meses para cá o quanto a figura de Yeshua/Jesus gera interesse e controvérsias em diferentes meios, mas principalmente entre Cristianismo e Judaísmo. Muitos judeus dizem, categoricamente, que "ele [Yeshua/Jesus] não pode ter morrido pelos pecados de ninguém, pois a Torá diz que cada um morrerá pelo seu próprio pecado" (vide Deuteronômio 24:16). Esse é um argumento muito forte e eu acho que tem bastante fundamento, pois cada um de nós vai morrer um dia e cada um pagará por suas transgreções. É isso o que eu acredito, mas pode ser que não seja assim. Muitas dessas coisas, só o Eterno sabe como será.
                Entretanto, não devemos jamais menosprezar tudo o que aconteceu por conta de Yeshua/Jesus. Quero falar justamente sobre isso: será que falar que Yeshua/Jesus nos salvou só pode ser interpretado em um único sentido?
                Eu acredito que não. Existe uma possibilidade mais ampla relacionado a essa questão. Vejamos os povos que cercavam os judeus na época de Yeshua/Jesus. Qual daqueles povos era sequer B'nei Noach1? Nenhum deles. E muito longe disso, faziam coisas abominavéis. E mesmo em outros continentes a coisa não era muito diferente. Peguemos um exemplo da Europa, os Vikings. Eu gosto bastante dos Vikings, admiro sua cultura e povo, entretanto, imagine viver naquela época: eles eram bárbaros, brutais, rituais assassinos eram comuns, entre outras coisas. Algo completamente longe do ideal Noético. Só com o avançar do Cristianismo que as coisas foram mudando. Por conta do Cristianismo, os povos foram cada vez mais, em certo sentido, se aproximando da prática das Leis de Noé.
                Talvez nem cristãos e nem muçulmanos conheçam as Sete Leis, mas a prática deles se aproxima e muito dessas Leis. Muito mesmo, talvez não de forma ideal, mas certamente muito melhor que a prática pagã-bárbara de outros povos. E quem foi peça chave nisso tudo? Justamente Yeshua/Jesus. Por conta de sua mensagem, embora muitas vezes mal interpretada, muitos povos e a humanidade de modo geral pôde se aproximar da prática das Leis Noéticas. E se um não-judeu que pratica essas leis serve ao Eterno, o Deus de Israel, então acredito que foi esse o tipo de "salvação" que Yeshua trouxe: a possibilidade de conhecer o Deus dos judeus, o monoteísmo bíblico. Por conta de Yeshua/Jesus, os povos tiveram acesso, via Cristianismo, à cultura e aos textos Judaicos. E isso é e foi algo muito bom. O que ainda nos falta é união e respeito às diferenças.
                Estamos no momento agora do diálogo inter-religioso. Esse é o tema do momento. Diversos rabinos e padres, desde o final da Segunda Guerra Mundial estão trabalhando em pról disso. Judeus/Judaísmo ficar criticando Cristãos/Cristianismo e vice-versa é algo completamente abominável e retrógrado. É lamentável ver isso ainda atualmente. Uma instituição Judaica ou Cristã que não fala sobre isso está parada no tempo. Uma instituição que fica criticando outra fé está remando contra a maré. Esse momento de brigar deveria nunca ter acontecido; mas como aconteceu, deveria ter ficado lá século 15 ou 16. O momento agora é de nos unirmos. Se Yeshua/Jesus é o Messias ou não, um dia todos vamos descobrir. Por enquanto, cada um tem a sua fé, que deve ser respeitada. E isso está até no documento "Os 12 pontos de Berlim"2. Vale a pena a leitura desse importantíssimo documento.
                Pense, reflita sobre isso. Yeshua/Jesus fez algo importantíssmo. E ele possibilitou sim a "salvação da humanidade". Pelo menos em certo sentido.
Edgard MacFraggin'

[1] B'nei Noach são os "Filhos de Noé"; são aqueles que seguem as Sete Leis Noéticas, leis pelas quais um não-judeu pode servir o Deus de Israel. Clique nesse link para ver as Sete Leis 
[2] A leitura desse documento pode ser encontrada clicando nesse link 

domingo, 4 de janeiro de 2015

Projeto andador para Cães - por Edgard MacFraggin'

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Veja o andador pronto no vídeo abaixo:
Edgard MacFraggin'

sábado, 3 de janeiro de 2015

É pelos frutos que se conhece a árvore


             
  Minha mãe nasceu e cresceu em uma cidade muito pequena, no interior do Maranhão. Era uma cidade muito pobre, e as condições de vida eram muito ruins. Como somos uma família bastante assimilada por conta das perseguições contra os judeus, meus bisavós, avós, etc, frequentavam uma igreja ali nessa cidade, era uma Igreja Assembléia de Deus. A realidade dentro da igreja era extremamente rígida, segundo minha mãe. Era tão complicado que ela cresceu achando que, metaforicamente, “D’us era um homem de barba longa e branca, com um cajado na mão, pronto pra cacetar e castigar todo mundo”. Os líderes do local usavam interpretações absurdas dos textos bíblicos em benefício próprio.

                Os membros desse grupo religioso eram constantemente punidos pela liderança da igreja. Se uma irmã usava um simples batom, era acusada de ser “pecadora”. Usar um perfume melhorzinho então nem pensar: se a esposa do pastor percebesse, a irmã era posta em “disciplina”. Se um irmão se vestia um pouco melhor, era posto em disciplina e a culpa que ele tinha era que ele era “vaidoso”. Se alguém questionasse a atitude da liderança, era taxado de “rebelde”. Entretanto, os pastores e líderes, em suas vidas particulares viviam muito bem. Embora fossem raros na época, eles tinham automóveis, e eram carros bons para aquele tempo. Eles viviam integralmente do trabalho religioso, tinham seus salários pagos completamente pelo dízimo de quem frequentava aquele grupo religioso. É claro que ter um padrão de vida justo é muito bom, dificuldades físicas nos atrapalham a servir a D’us e Maimonides mesmo ensinava isso. Mas como um pastor podia ter um padrão de vida muito melhor que os membros que frequentavam sua igreja? O pastor recebia o dízimo de pessoas às vezes muito pobres e que até mesmo passavam fome. Os membros da igreja moravam em bairros horríveis e muito pobres, cheios de violência, enquanto o líder tinha um bela casa, e nela tinha todo o tipo de luxo daquele tempo. Será que isso é justo? Se alguém quiser ter luxos, tem todo o direito de ter. Mas que trabalhe para isso. Existem muitos líderes religiosos, como pastores, rabinos, etc, que além de exercerem o serviço religioso também tem seus empregos próprios empregos, sendo, durante a semana, profissionais liberais, funcionários púbicos, professores, médicos, etc. Além de contribuir para a sociedade, não são pesados para suas próprias congregações. Aos que vivem integralmente de seu ministério religioso é recomendável que tenham um padrão de vida compatível com o padrão de vida das pessoas que frequentam o local ao qual lideram. Isso é também “fugir da aparência do mal”.

                Ali naquele local que minha família frequentava, constantemente os membros passavam por humilhações, partidas da própria liderança. Dentro da tradição judaica, é enfatizado fortemente sobre a proibição de humilhar alguém. Vovó contou-me sobre uma mulher que não podia ter filhos. Por conta disso, ela foi considerada ali na igreja como uma mulher que carregava algum tipo de grave maldição. Isso me faz lembrar aquelas religiões tribais africanas, em que mulheres que não tinham filhos eram expulsas da convivência com a comunidade, eram extremamente humilhadas e além de carregar o sofrimento de não poderem ter filhos, tinham que carregar humilhação pública imposta pela liderança da tribo por conta de ela não poder ter filhos. E como é isso na tradição judaica? Diversas mulheres que não podiam engravidar eram na verdade mulheres elevadíssimas espiritualmente! Sarah, Raquel, Ana, a mãe de Sansão, entre outras, eram mulheres que não podiam ter filhos. E isso não era algo do tipo “D’us está te castigando, você deve ter cometido um grave pecado para isso ter acontecido” ou coisa semelhante. O Eterno tem seus planos. E essas mulheres, embora fossem estéreis eram mais elevadas espiritualmente do que muitas mulheres que tinham muitos filhos. As mulheres não são como vacas que tem que parir um bezerro por ano, e as vacas que não são capazes de parir um bezerro por ano são abatidas. Cada um tem sua própria medida, que o Eterno abençoe a todos nós. Que o Eterno nos livre de aumentar a dor dos outros, mas que possamos ser pessoas que ajudam os outros. Que nossa compaixão e benevolência sejam maiores que nossa rigidez.

                Era complicado também quando a igreja passava por alguma dificuldade. Se havia dificuldade financeira, a culpa era dos membros que não oravam o suficiente. Ou então, a culpa era dos membros por eles terem falta de santidade. A culpa era sempre dos membros, nunca da liderança. A liderança era aparentemente um exemplo de santidade a ser seguido sem nunca ser questionado. Eles se esqueceram de que somos todos humanos e todos sujeitos a ter falhas. Ninguém é perfeito. Podemos nos esforçar para melhorar e devemos fazer isso, mas até o nosso último suspiro seremos incomodados por nossa própria inclinação ruim. Como disse o Messias, “por que me chama de bom? Bom é só o meu Pai”. E é muito interessante ver como é isso na tradição rabínica. Por exemplo, o rabino Nilton Bonder, no livro “A Cabalá da Inveja”, na página 113, diz o seguinte:

“Quando você acusa alguém e pronuncia um julgamento sobre esta pessoa, dizendo que ela merece isto ou aquilo, está pronunciando julgamento sobre si mesmo. Apesar do erro cometido pelo outro parecer estranho à sua maneira de ser e de se comportar, você já terá cometido de forma semelhante este mesmo erro. Se você acusa alguém de, por exemplo, idolatria, você será, com certeza, culpado por orgulho – que é, em si, uma forma de idolatria. E seu erro pode ser maior que aquele que você aponta, pois o julgamento sobre você será ainda mais severo e crítico. Porém, se você justifica aquele que está errado, desculpando-o pelo fato de estar ainda aprisionado à sua encarnação e não poder controlar seus desejos, então você estará justificando a si mesmo.

Assim, semelhantemente, quando acusamos alguém de “falta de santidade” significa apenas que há falta de santidade em nossas vidas também, de alguma forma. Se acusarmos alguém de “não orar o suficiente” significa que de alguma forma também não o fazemos. Talvez, viver uma vida de santidade tenha muito mais a ver com a forma que nos postamos diante da vida, se agimos de forma ética, se respeitamos o próximo a cuidamos da Criação. Vivemos numa era em “ter é ser”, gostamos muito mais da aparência externa das coisas do que elas realmente são. Chimpanzés não podem fazer caridade, não podem dar alimento aos pobres, não podem fazer uma porção de coisas que o Eterno nos ordenou fazer. Entretanto, qualquer chimpanzé pode vestir um terno, ou uma saia até o calcanhar, ou ir pra igreja todos os domingos. É claro que se vestir bem e decentemente é muito importante, mas a vida não se resume ao modo que nos vestimos ou àquilo que comemos. De que adianta se vestir de maneira “santa” ou de maneira “kosher” e sair por aí humilhando todo mundo? Que o Eterno nos livre de viver uma vida de aparências, de parecer uma coisa por fora e na verdade viver algo bastante diferente daquilo que falamos com nossos lábios.

Tudo isso me faz lembrar sobre a Halachá. A forma de aplicar a Halachá pode ser explicada com a seguinte metáfora. Imagine que, metaforicamente, um pitbull queira servir a D’us. Por conta de sua natureza selvagem e violenta, esse pitbull precisa de barreiras para se controlar. Assim, a Halachá que um pitbull deve aplicar a si mesmo é semelhante à uma focinheira de couro forte e reforçada com uma coleira de ferro maciço. Algo muito forte e pesado, para que o pitbull possa se controlar e servir a D’us da melhor forma possível. Se esse pitbull aplica essa rigidez a ele mesmo, ele faz muito bem. Agora, imagine outra situação: esse mesmo pitbull que aplica a si mesmo uma halachá rígida como uma focinheira e coleira de ferro encontra um gatinho da raça angorá, uma raça conhecida por ser dócil e gostar muito de contato social. Daí, esse gatinho também quer servir ao Eterno. Será que esse gatinho que tem uma natureza completamente diferente do pitbull precisa de uma focinheira e coleira de ferro maciço? É claro que não. E o pitbull comete um grande pecado se ele quiser impor o uso de sua própria focinheira e coleira de ferro no gatinho. A focinheira e a coleira de ferro são cercas necessárias ao pitbull, mas não são necessárias ao gatinho. Se a focinheira e a coleira de ferro forem coladas no gatinho angorá, ele viverá uma vida infeliz e terrível, trará apenas sofrimento desnecessário à vida dele. E todos nós temos um lado pitbull e um lado gatinho dentro de nós mesmos. Todos nós temos um lado mais fraco e propenso a cometer determinados tipos de pecado e outro lado em que somos mais fortes. Por exemplo, uma pessoa que tem problemas com álcool não come nem mesmo um bombom de licor, pois isso pode ser motivo de grande tropeço para ele. Mas ele querer impor isso a todo mundo, é um grande pecado, pois ele coloca um julgo impossível de carregar em cima dos outros. Temos o dever de aplicar cercas às nossas próprias vidas, mas cometemos um grande erro ao querer que os outros vivam do mesmo modo que vivemos, que apliquem às suas próprias vidas as mesmas cercas que nos impomos e com a mesma rigidez. O julgo do Masshiach existe, mas ele é leve. O Eterno libertou um povo que era escravo no Egito para que ele fosse livre e não para se submeter a um novo tipo de escravidão, a um novo tipo de “humanos dominando humanos”. Escolher viver de forma mais rígida e limita não necessariamente é um sinal de mais santidade, embora possa ser. Escolher viver de forma mais limitada pode ser um sinal de que na verdade a pessoa tem um lado pitbull muito maior e mais forte que seu lado gatinho e assim precisa de muita rigidez em sua conduta – e essa pessoa faz muito bem em se aplicar uma conduta mais rígida, mas comete um grande pecado ao forçar os outros a viver de seu mesmo modo rígido.

                O Masshiach ensinou que é “pelos frutos que se conhece a árvore”. Um pitbull que serve ao Eterno deve ser um pitbull que produza bons frutos. Um pitbull que diz que serve ao Eterno com seus lábios, mas que ao olharmos suas atitudes não verificamos isso é um pitbull no mínimo mentiroso. Um pitbull que diz amar a D’us, mas continua mordendo todo mundo por aí, não serve a D’us. Se nós não cuidamos das pessoas que nós vemos, como vamos amar a D’us, a Quem não vemos?

                Edgard MacFraggin’