quarta-feira, 27 de junho de 2018

Reconhecimento


É possível reencontrar quem nunca foi encontrado? Ou refazer o quê nunca foi feito? Rever o que não visto? Reler o quê não foi lido?

É possível reconhecer quem nunca foi conhecido? Ou melhor, ser reconhecido por quem nem te conhece? 

Zygmunt Bauman - que infelizmente faleceu ano passado - já alertava sobre esses problemas da atualidade, a qual ele denominava de Modernidade Líquida (inclusive esse é o título de um dos livros dele). As situações, relacionamentos, laços, etc, são fluidos e escorrem como a água. É difícil contê-los. E, lamentavelmente, esse é o grande problema de minha geração e das gerações posteriores - muito embora hajam pessoas mais velhas que também sofrem com isso. 

Certamente não é porque se recebe "likes" dos 500 amigos do Facebook em uma foto ou publicação que quem curtiu te reconheça. Talvez ele(a) te admire ou tenha achado legal o que você publicou. Mas aquilo que arde dentro de todos nós, essa vontade de ser reconhecido, não pode ser saciada dessa forma. Quem acha que é reconhecido por conta disso mais cedo ou mais tarde vai ver que isso não é real. 

As pessoas só podem ser reconhecidas por quem as conhece. Eu só posso também reconhecer quem eu conheço. E, provavelmente, eu conheço quem me reconhece e vice-versa. 

Zigmunt Bauman disse em uma entrevista que conversou com um adolescente que lhe disse ter 500 amigos no Facebook. Bauman, com mais de 90 anos, pensou: "eu não tenho 500 amigos. Na minha vida inteira eu devo ter feito uns 5...". Logo, o que o garoto chama de "amigo" não é a mesma coisa que Bauman chama. E Bauman tem razão: nem todo "amigo" do facebook é realmente amigo. Podemos contar com todos? Eles estenderão a mão na hora da dor? Ou vão se mandar? Esses "amigos do facebook" não podem nos reconhecer. 

A experiência que tive foi a de esperar reconhecimento de chefes, professores e lideres espirituais (e certamente, tantos outros). É óbvio que não o tive. E isso me frustrou muito, mas um dia eu lembrei de conversas que tive com a Ana Mariza. Ela me falou diversas vezes sobre a importância da Linguagem e de coisas que Lacan falava. E aí eu tive essa sacada do re-conhecer. Reconhecer é conhecer de novo e agradeço a ela pelos ensinamentos que me passou. Esses líderes, chefes e professores jamais poderiam me reconhecer.

Saber que reconhecer é "conhecer de novo" me ajudou muito a perceber essas situações e observá-las de outras formas. Espero que esse post te ajude de alguma forma também...

Um abraço, 
Edgard MacFraggin'

PS: assista abaixo a entrevista de Zigmunt Bauman