segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O que não fazer durante o Natal


Essa época do ano, no Brasil e em muitos outros países, há as celebrações natalinas. Cerca de dois anos atrás, o Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, gravou uma mensagem desejando “feliz natal” para os israelenses cristãos, desejando-lhes votos de felicidade em suas festas. Lembro que fiquei sem entender o motivo dele ter feito isso. Pensava comigo “como pode um judeu fazer algo do tipo?”... na mesma época, eu cometi algo que hoje considero errado e acho que hoje entendo os motivos de Benjamin Netanyahu, pelo menos em parte. Naquela época, via redes sociais, eu critiquei duramente o Natal, chegando mesmo a fazer zombarias à respeito da festa. Acabei ofendendo muita gente com minha falta de respeito, e por isso peço perdão.

Geralmente, quando alguém se levanta para criticar o Natal e outras práticas, o fazem no sentido de “lutar contra idolatria”. Entretanto, se essa luta se torna mais pessoal, no sentido de alguém se levantar para criticar outra pessoa, chamando-a de “idólatra”, a coisa começa a ficar bastante mais séria para o crítico. Vejamos o que dizem os rabinos sobre isso:

“Quando você acusa alguém e pronuncia um julgamento sobre esta pessoa, dizendo que ela merece isto ou aquilo, está pronunciando julgamento sobre si mesmo. Apesar do erro cometido pelo outro parecer estranho à sua maneira de ser e de se comportar, você já terá cometido de forma semelhante este mesmo erro. Se você acusa alguém de, por exemplo, idolatria, você será, com certeza, culpado por orgulho – que é, em si, uma forma de idolatria. E seu erro pode ser maior que aquele que você aponta, pois o julgamento sobre você será ainda mais severo e crítico. Porém, se você justifica aquele que está errado, desculpando-o pelo fato de estar ainda aprisionado à sua encarnação e não poder controlar seus desejos, então você estará justificando a si mesmo.” (trecho do livro “A Cabala da Inveja”, do Rabino Nilton Bonder, pág. 113).

Bom, em minha opinião, tanto quanto cristãos devem celebrar o Natal, os judeus não o devem celebrar. São religiões diferentes, com costumes diferentes e deve ser “cada um na sua”. Mas não quero entrar na parte ritualística ou espiritual do Natal e nem mesmo de outras festas. Quero falar de questões mais “físicas” e não “rituais”. Porque embora sejamos de religiões muito diferentes, temos algo em comum. E esse algo em comum é o “ser à Imagem e Semelhança do Divino”. Vejamos isso...

Por conta de uma determinada festa, crianças órfãs são visitadas todos os anos, e recebem presentes, alimento e carinho. Por conta dessa festa, idosos são visitados em asilos e recebem mais carinho e atenção do que recebem no ano inteiro. Doentes recebem alegria em leitos de hospitais e os presos recebem carinho também. Pessoas pobres recebem dignidade, seja em forma de alimento, seja em forma de roupas, ou brinquedos. E essa festa é o Natal. E o que é lícito fazer no Natal? É lícito e louvável fazer no Natal o que é lícito e louvável fazer no ano inteiro. É licito “amar o próximo como a ti mesmo”.

Eu acho que quem quiser criticar a prática religiosa dos outros, tem todo direito de fazê-lo. Mas criticar sem ter nenhuma atitude, de que adianta? Se for para criticar, deve-se fazê-lo muito mais com atitudes do que com palavras. Se você acha que quem celebra o Natal está complemente errado em suas atitudes, mostre a ele como fazer então. Se eles visitam crianças, idosos, doentes e presos uma vez por ano, quantas vezes alguém que os critica deve visitar? É muito fácil ficar sentado apenas criticando sem nunca se levantar da cadeira e ir estender a mão a quem necessita. Se alguém acha que sua prática religiosa é tão mais elevada que a dos outros, que demonstre isso com seus frutos, pois “pelos frutos se conhece a árvore”. Então, faça caridade não apenas uma vez por ano, como muitos fazem apenas no Natal. Faça caridade não só uma vez por ano, faça caridade pelo menos uma vez por mês. Se nós não somos capazes de “amar ao próximo como a nós mesmos” a quem vemos todos os dias, como o seremos de “amar a D’us”, a quem não vemos?

Quero ler agora algo muito interessante que Larry Norman, de bendita memória, escreveu. Ele dizia assim, numa tradução livre...

“Você deve alimentar os pobres, eles estão morrendo todos os dias; quando sua mãe perguntar se você alimentou os pobres, qual será sua resposta? Você deve alimentar os pobres, você deve obedecer; quando seu pai perguntar se você alimentou os pobres, qual será sua resposta?
Existe um pequeno garoto deitado no chão, tao fraco que não consegue levantar a cabeça, tão doente que não consegue emitir um som. Há uma pequena bebezinha com os olhos bem fechados, seu corpo queima em febre, não há comida para ela essa noite...
Você tem que alimentar os pobres, você deve obedecer, quando os anjos perguntarem se você alimentou os pobres, qual será sua resposta? Você tem que alimentar os pobres, eles estão morrendo todos os dias, quando o Messias te perguntar se você alimentou os pobres, qual será sua resposta?
Eles estão cortando as florestas tropicais para alimentar vacas, empresas de Fast Food não tem tempo a perder. Áreas alagadas e pântanos estão sendo drenados, os animais e pássaros não têm mais lugar para ficar.
Conglomerados insidiosos negam que estão envolvidos, com tanta falsidade fica muito difícil de resolver as coisas, eles imprimem quilômetros de papel que não dizem nada, e assim outro milhão de arvores são cortadas. Nas escolas, as crianças vão sem uma refeição; eles estudam esse nosso país maravilhoso, mas deve parecer-lhes completamente irreal. No Haiti, na África e na sua pequena cidade também, existem crianças passando fome em todos os lugares e eles estão olhando para você...
Você tem que alimentar os pobres, você tem que alimentar os pobres...”.

Alimentar os que têm fome, dar de beber aos que tem sede, vestir aos que estão nus, visitar os doentes, cuidar dos idosos, brincar com uma criança, tudo isso tem muito mais valor que longas horas de estudo religioso e orações. Como ensinam os rabinos, nós “aprendemos mais sobre o Eterno imitando-O do que contemplando-O”. Se você precisa de um motivo, uma celebração para fazer o bem para o outro, ao invés de fazer bondade nessa época em nome do Natal faça-o em nome de Chanukkah; compartilhe suas refeições de Purim com os mendigos; visite os doentes em Pessach; vá a um asilo em Rosh HaShana. E que um dia o Eterno nos permita fazer o Bem a todos a quem pudermos todos os dias, independentemente de datas. Chag Chanukkah Sameach e que você não perca a oportunidade de fazer uma bondade a alguém ainda nessa festa de Chanukkah de 5775! 

Edgard MacFraggin'