segunda-feira, 28 de julho de 2014

Rock’ N’ Roll: a Origem do Ódio

               As pessoas que me conheceram no final da adolescência perceberam um período de mudança intensa a respeito de minha pessoa. Eu estava deixando de ser aquele menino gordinho com cabelo “cogumelo” e me tornando um jovem adulto de cabelos longos, roupas pretas, correntes e muito Rock N’ Roll nos ouvidos. Realmente, o Rock’ N’ Roll é um estilo que trás arraigado a si mesmo o “ser rebelde”.
                 Cansei-me de escutar pessoas de diferentes religiões afirmando categoricamente que Rock é “coisa do diabo”, que é algo mal, que ninguém que serve a D’us deveria escutar. Eu acho interessante que muitas pessoas acham que eu deixei de ser roqueiro. Não foi porque eu cortei o cabelo que eu deixei de gostar do estilo. Creio que eu sou mais roqueiro do que antes, inclusive: nesse período conheci novas bandas e tenho curtido novos estilos. É incrível ver como esse assunto é tratado como um tabu religioso. Até hoje.  
                Mas qual a “Origem do Ódio” ao Rock? Vale a pena a leitura dessa dissertação do Sr. Eric Vaillancourt (2011), intitulada “Rock ' n' Roll in the 1950s: Rockin' for Civil Rights” (“Rock’ N’ Roll na década de 1950: balançando pelos Direitos Civis”. Para ver a dissertação, clique aqui). Ele pontua algo que eu temia ser a razão de tanto ódio desmedido contra o estilo. Mas, para falar disso, devemos entender a origem do Rock, como tudo começou.
                Nos EUA até a década de 1950, havia um enorme sentimento racista. Negros e brancos não podiam ficar juntos dentro de ônibus, não frequentavam os mesmos parques e nem mesmo as mesmas igrejas. A música que os brancos escutavam era diferentes da música dos negros. Naquela época, os negros americanos tinham um estilo musical próprio, o Rhythm and Blues [R&B] (de 1950, hoje o estilo é bem diferente do que era). Imaginem a “abominação” na cabeça dos brancos a ideia de escutar R&B. Entretanto, os adolescentes brancos daquela geração começaram a ter contato com o estilo e a gostar. Passaram a frequentar locais que os negros frequentavam. Daí, quando um homem branco chamado Elvis Presley começou a cantar R&B foi que “nasceu” o Rock. Digo “nasceu” pois ele já existia, os negros já o cantavam há muito tempo. Mas pra ter aceitação entre os brancos, foi necessário que se mudasse o nome. Até hoje o R&B é associado à musica negra, afro-americana.
                Os pais daqueles adolescentes ficaram loucos com isso. Seus filhos estavam escutando música de quem eles julgavam serem inferiores! E daí começa o lance da rebeldia. Os adolescentes brancos se rebelaram contra seus pais em prol de escutar Rock. E isso permitiu grandes avanços sociais em prol dos negros americanos. Naquela geração, brancos e negros começaram a reatar os laços, começaram a andar juntos. Hoje, eles têm um presidente negro! Isso certamente era inimaginável naquela época.
                Talvez, por conta do avanço dos Direitos dos Negros, falar que não se deveria escutar Rock pois era música de negros poderia soar certamente racista. Qual a solução? Coloque a culpa no “diabo”. Pra terem uma ideia, Elvis Presley e Larry Norman foram acusados de ser satanistas, servos do mal, etc. Escutem a música deles. Elas são bem “leves” perto de estilos que temos atualmente. Eles foram acusados injustamente. Vejam as letras das músicas. Não tem nada de mal nelas. Muitos outros grupos foram acusados e até hoje esse “papo” rola.
                Não estou aqui pra tapar o sol com a peneira e afirmar que “não existe nenhuma banda/grupo que tenha material ligado a demônios”. Existem realmente algumas bandas que colocam temáticas satânicas em suas letras e fazem coisas más perante o que a Torá ensina. Mas não são todos. Existe muito Rock’ N’ Roll que tem letras boas. Eu acho que as pessoas não conhecem praticamente nada do estilo e já saem tacando pedras aos montes, condenando o que nem conhecem. Cansei de escutar isso.
                Certa vez me apresentaram uns dados de pesquisas que mostravam que Rock e Rap fazem literalmente mal à saúde. Me falaram de dois experimentos diferentes, os quais desconheço as fontes originais. O primeiro foi com ratos. Colocaram os ratinhos pra escutar Rock e eles começaram a se canibalizar! A conclusão era de que o Rock os enlouqueceram ou algo do tipo e eles ficaram agressivos o que levou ao trágico fim dos roedores. Entretanto, não é assim que se analisa resultados de pesquisas. Não é assim que se faz Ciência. Qual foi o resultado encontrado no grupo controle? Por exemplo, imaginem que tinham dois grupos de ratos. O grupo 1 escutava Rock e o grupo 2 era o grupo controle, ou seja, eles não escutavam nada. Daí foi observado que nos dois grupos os ratos se canibalizaram. Assim, não se pode concluir que “escutar Rock” seja um fator que induza ratos a se canibalizarem. Ainda que os ratos tenham se destruído apenas no grupo 1, deveriam testar outros estilos musicais. Daí vamos supor que o grupo 1 escutava Rock e o grupo 2 escutava música Judaica e ambos se canibalizaram. Ou que qualquer que fosse o estilo colocado os ratos se canibalizavam. Daí, pode-se concluir que ruídos estranhos (oras, música não é um estímulo feito para ratos e sim para humanos!) estressam os ratos e eles se canibalizam. Ainda que isso seja verdade, tenho minhas dúvidas quanto a validade da extrapolação desse dado de ratos para humanos: somos espécies completamente diferentes.
                O outro experimento que me falaram a respeito foi um com mulheres gestantes. Os pesquisadores colocaram um head-phone encostado na barriga das moças gestantes e ligaram músicas do estilo Rap. Eles observaram que os pobres fetos “empurravam” contra a parte interna da barriga, como que querendo afastar esse som horrível de perto deles. Novamente, encontramos o mesmo problema anterior: não se analisa ciência dessa forma. Qual o resultado do controle negativo? Usaram outros estilos musicais? Quais os resultados deles? Eu acredito que não importa qual fosse o estilo musical colocado, eu acho que os fetos se sentiriam provavelmente bastante incomodados. Sabe aquela história de “não bata no aquário”? As ondas sonoras se propagam com mais intensidade em meios líquidos e sólidos do que no ar. Assim, realmente deve ensurdecedor para um bebê colocar um head-phone na barriga de sua mãe pra ele escutar, não importa qual música seja. O meio em que ele está é basicamente sólido e liquido, qualquer tipo de música deve chegar de maneira ensurdecedora lá dentro.  Mas daí novamente ficou de vilão o Rap, que faz mal pros bebezinhos.
                Outro ponto relevante é que não é apenas no Rock que existe material ligado ao paganismo (repito que não são todas as bandas). Existe muita música instrumental clássica que os compositores se basearam em deuses pagãos para compor. Só porque a música não tem letra não significa que o compositor não tinha ligação com o paganismo. Eu fico admirado em ver que um monte de gente que fala mal de Rock, Rap, etc, diz que gosta de música clássica. Às vezes, está escutando música pagã e nem sabe.  
             Alguns pensam que não devemos escutar música não-religiosa pois não conhecemos a intenção que o compositor da música teve ao escrevê-la. Assim, supõe-se que qualquer música de estilos como Rock, Metal, Rap, etc, sejam intrissicamente más, enquanto que qualquer música judaica, no caso dos judeus, e cristã, no caso dos cristãos, seja automaticamente boa. Só que há um grande problema nessa lógica: não dá pra saber a verdadeira intenção que os compositores tiveram ao compor. Assim, o máximo que consiguimos alcançar é supor que o compositor de música-religiosa teve uma boa intenção ao compor. Assim, pode até ser que um compositor tenha tido uma má intenção ao compor uma música, que tenha por exemplo colocado mensagens subliminares por trás da letra ou algo nesse sentido e nós talvez nunca iremos saber. Eu prefiro ter, pessoalmente, uma abordagem de ter um peso e uma medida. Eu não escuto músicas que falem positivamente ou que façam apologia ao que a Torá proíbe. Se uma música fala de idolatria, adultério, etc, eu não escuto. Fora isso, não vejo problema. Eu não sou capaz de julgar a intenção do coração de ninguém. E eu acho que pensar que músicas religiosas são automaticamente boas e que músicas não-religiosas são automaticamente ruins é usar dois pesos e duas medidas, pois é impossível saber qual era a intenção do coração do compositor religioso ou do secular. Eu não posso ser injusto e cometar tamanho pecado de me colocar como juíz das intenções alheias.     
                Eu conheço cristãos que acreditam que escutar música não-cristã é pecado. Eu conheço judeus que acreditam que escutar música não-judaica é pecado. Deve existir muçulmanos que pensem de modo semelhante, eu não conheço muitos muçulmanos. Se alguém quer se abster de música não-cristã ou de música não-judaica, no sentido de fazer um voto, muito bom, você está de parabéns e espero que se mantenha firme nesse propósito. Agora, afirmar que escutar Rock é pecado é uma coisa muito diferente. Por acaso a Torá proíbe escutar Rock? Proíbe escutar Rap? Não e não. Assim, não pode ser dito que é pecado escutar. Demonizar o Rock é pegar carona no sentimento racista, de ódio aos negros. Foi aí que começou esse ódio ao Rock. Que o Eterno nos livre disso.
                  Ainda, quem disse que ser rebelde é necessariamente ruim? Contaram-me uma vez uma parábola de um homem que tinha como destino derramar sangue. Não necessariamente isso era algo ruim. Ele podia ser um homicida ou um cirurgião. Podia matar ou salvar vidas. Ambas as atividades derramam sangue. Ser um rebelde contra um sistema sujo e corrupto é algo bom. Ser rebelde contra o pecado é algo bom. Por conta do Rock, muita coisa na sociedade mudou pra melhor, entre elas o reconhecimento de negros e brancos são iguais. Acho que Pai Abraão seria um bom roqueiro: ele pegou um martelo e se rebelou contra seu pai quando destruiu os ídolos que este fabricava. Isso é ser rebelde pro lado bom. Yeshua foi outro grande rebelde de seu tempo. Ele se rebelou contra a hipocrisia que estava presente em alguns daquele tempo. Ser rebelde não é intrinsicamente algo mal.
                Quanto a ter cabelos grandes, brincos e tatuagens: isso tudo é permitido aos não-judeus. Um não-judeu pode ter cabelo grande, usar brincos e se tatuar pois as 7 Leis de Noé não proíbem isso. Assim, todos esses roqueiros podem servir tanto ao Eterno quanto qualquer judeu, por exemplo. Querer forçar qualquer coisa que esteja além das Leis Noéticas aos não-judeus é considerado transgressão pelos Sábios Judeus e também Yakov condenou isso em Atos 15.
                Apesar do estilo “agressivo” de alguns roqueiros, eu acho que as pessoas mais doces e amigáveis que eu conheci eram roqueiros. Diversos amigos meus que eu conheci antes de fazer o retorno ao Judaísmo continuaram a ser  meus amigos depois do retorno. Respeitam minha religião, se preocupam quando vamos fazer alguma refeição juntos (por conta da cashrut), etc. Coisa que eu não vi presente em um monte de gente que não escuta Rock – e se bobear que até abomina o estilo. De que adianta isso? A santidade de alguém não reside no comprimento de sua barba ou de seu cabelo, em usar roupas pretas ou roupas brancas. A santidade transcende tudo isso.
                Se alguém quiser sugestão de músicas, deixe um comentário aí embaixo que eu mostro algumas que eu gosto bastante.
                Fiquem na paz,
Edgard MacFraggin’


Eu no início de 2011.

domingo, 20 de julho de 2014

Preciosas Janelas da Vida


Eu com a vovó Zilda - aproximadamente em 2005. 
 Recebi hoje a triste notícia de um amigo: sua avó, de abençoada memória, faleceu ontem. Lembro-me bem dela, lembro-me das vezes em que estive na casa de meu amigo e dos bons momentos que passamos juntos, de quando ela estava lá, das refeições que fizemos e das preces que rezamos juntos. Fiquei o dia hoje pensativo, e é meio inevitável lembrar de minha avó Zilda, de bendita memória. Ela faleceu em 2009, no final daquele ano, e deixou em nós uma saudade sem fim. Parece que esse ano para mim está cheio desses eventos. É a quarta pessoa querida para mim que falece esse ano.

                Acho que mais ou menos uma hora atrás estava pensando nisso: dificilmente um contemporâneo chega aos 20 anos de idade sem nunca ter vivenciado esse amargo sentimento de luto por conta de alguém próximo. Quando minha avó faleceu, eu tinha 22 anos de idade. Eu acho que ela chegou a viver uns 70 e poucos anos, entretanto, para mim, ela viveu apenas 22 anos. Durante 22 anos apenas eu pude desfrutar de sua presença. E acho que esse dado é muito mais válido e palpável para mim do que dizer que a expectativa de vida do homem moderno é de 80 anos de idade. Oitenta anos nada: são apenas 22, ou 10, ou 13, ou melhor, a somatória dessas frações. Acho que assim fica melhor explicado.

Eu (a esquerda), meu irmão (a direita) e o Donald
possivelmente em 2004/2005.
                Falando em tristeza, tenho, particularmente, passado dias tristes com relação ao meu cachorro, o Donald. Ele tem 14 anos de idade, está velhinho, tendo problemas de saúde recentemente. Muito provavelmente ele não tem mais muito tempo pra passar com a gente, infelizmente. Quando o Donald chegou em nossas vidas, eu tinha 13 anos de idade, foi em Junho de 2000. Eu posso me recordar desses últimos 14 anos com ele: ele estava lá quando eu terminei o Ensino Fundamental, ele estava lá quando eu terminei o Ensino Médio; ele estava lá quando eu me formei em Veterinária e ele estava lá quando terminei o Mestrado. Em mais da metade da minha vida ele esteve presente. E como foram momentos preciosos. Esses tem sido dias em que eu tenho pensado em qual o motivo da vida animal ser tão preciosa para nós. Não estou desmerecendo a vida humana – lembrem-se, uma coisa não anula a outra, ok? A questão é que eu convivi mais com meu cachorro do que eu convivi com alguns amigos que passaram pela minha vida. Quando minha avó faleceu, meu primo mais novo, por exemplo, tinha 12 anos de idade mais ou menos. Ou seja, eu convivi mais tempo com meu cachorro (de meus 13 anos até o presente – tenho 27 agora) do que meu primo conviveu com a vovó. Ainda, do início da minha convivência com o Donald eu tenho uma lembrança bastante clara. Dos 12 anos que esse meu primo conviveu com a vovó, talvez ele se lembre cerca de 6 anos apenas (estou deduzindo isso da lembrança mais antiga que tenho de minha avó, que foi em meu aniversário de seis ou sete anos, quando ela me deu de presente uma fatia de bolo confeitado e uma lata de Sprite! Que presente inesquecível, um dos melhores que eu já recebi!). Quando eu nasci, ninguém me disse que eu poderia conviver com a vovó por apenas 22 anos. Acho que subconscientemente me ecoava que poderia conviver com ela pelos 80 anos de expectativa de vida da mulher brasileira. Percebo assim que eu não tenho tanto tempo como eu imagino pra conviver com aqueles a quem eu amo.
                E eu acho que esse é um dos motivos pelos quais a convivência com familiares, com amigos e com os animais é tão preciosa. São janelas que inesperadamente se abrem em nossas vidas e depois se fecham abruptamente. Janelas preciosas, emolduradas em diamante, que deixam uma luz elevada nos iluminar durante algum tempo em nossas vidas. Talvez seja apenas a sequência dessas janelas que faça a vida valer a pena ser vivida. De que adianta viver 80 anos se não for pra cultivar relacionamentos, cuidar dos tristes e feridos, dar risadas, contar piadas, se alegrar, chorar e se emocionar?

???


Edgard MacFraggin' – em memória de minha avó e da avó do meu amigo.  

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Ter depressão: um terrível pecado

Ter depressão é pecado. Transtornos de humor e psicológicos, bipolaridade, pânico, etc, também são todos pecados. De igual modo, ter dor de barriga, unha encravada, cólicas menstruais, infarto do miocárdio, espinhas no rosto, diarreia, desidratação, náuseas, pressão alta, osteoporose, obesidade, reumatismo, bronquite, pedra nos rins, colesterol alto, gripe, caquexia, etc, é tudo pecado também. Quem fica doente é um pecador.
Sei que o primeiro parágrafo teve uma construção bastante absurda. Mas infelizmente, muitas pessoas, de diferentes religiões, acreditam que ter transtornos ligados ao Sistema Nervoso Central seja pecado, e um dos mais graves pecados. Eu acho que, pelo menos atualmente, qualquer um que tenha religião - seja judeu, cristão, muçulmano, o que for - quando tem algum problema de saúde procura um médico. Se alguém quebra um braço, não vê nenhum problema em ir ao hospital colocar uma imobilização ou algo do tipo. Se tem dor abdominal, certamente toma um chá, ou algum medicamento para alívio das dores. Parece-me as vezes que, no discurso de alguns religiosos, uma pessoa pode ter problemas patológicos em quaisquer sistemas do organismo - cardiovascular, respiratório, digestório, articular, urinário, etc - que é algo aceitável, passível de tratamento, de tomar medicação sem nenhum problema. Agora, se alguém apresenta algum distúrbio no Sistema Nervoso (no sentido fisiológico do termo, como qualquer outro dos Sistemas do organismo) é porque essa pessoa é "pecadora", porque é "um pecado ter doenças ou patologias neurológicas". Já estou cansado de ouvir pessoas dizerem que "ter depressão é pecado". Isso me faz lembrar bastante da Idade Média, em que as pessoas acreditavam piamente que crises epilépticas eram na verdade uma possessão demoníaca! Mas, naquela época, a ciência não era tão avançada quanto hoje e nem métodos diagnósticos tão bons.
Algum tipo de pecado é responsivo a tratamento medicamentoso? Será que um adúltero pode tomar um remédio e parar de adulterar? Ou um idólatra tomar uma injeção e abandonar a idolatria? Sabe-se que pessoas em crise psíquica respondem a tratamento medicamentoso, logo, existe uma base patológica por trás desses problemas. Se há uma alteração na concentração de determinados neurotransmissores no cérebro, transtornos ligados ao comportamento certamente irão ocorrer. Existem pessoas que têm predisposição genética para o problema, existem famílias em que esses tipos de crise surgem em diferentes indivíduos - da mesma forma como existe predisposição genética a ter pressão alta, diabetes, entre outras doenças.
Na Bíblia vemos exemplos de homens elevadíssimos espiritualmente que passaram por situações em certo sentido semelhantes a quadros depressivos. Tanto o grande profeta Moisés quanto o profeta Elias tiveram momentos em suas vidas que tiveram vontade de morrer (vontade normalmente presente em pessoas em quadro depressivo). E será que eles pecaram por isso? Eu creio que não. Somos humanos, somos fracos, somos limitados. Será que alguém é capaz de suportar tamanho sofrimento sem desejar a morte? Moisés e Elias desejaram a morte, e eram homens, como já disse, elevadíssimos.
Ter depressão não é ser insatisfeito com relação ao Eterno. É ser incapaz de conseguir romper, de enfrentar sofrimento. É ser insatisfeito consigo mesmo, é achar-se incapaz. E eu digo isso não apenas como alguém que conhece pessoas que passaram por quadro depressivo, mas como alguém que já passou por depressão. Lembro-me que quando tive a crise quem mais me ajudou - fora meus familiares - foram pessoas que já tinham enfrentado e superado alguma crise depressiva. Eram pessoas amáveis e pacientes, que realmente me ajudaram nesses momentos críticos - e devo muito a elas. Desmerecer uma pessoa que enfrenta um transtorno psicológico, chamando-a de "pecadora" ou dizendo "você está assim porque você quer" é semelhante a eletrocutar um cachorro tetraplégico. É piorar o sofrimento de alguém que precisa mais do que nunca ser acolhido, ser cuidado. Naqueles terríveis dias que passei, pessoas sem nenhum vínculo forte com religião, até mesmo ateus, me ajudaram mais que muitos 'religiosos' por aí. Trataram-me com dignidade e ajudaram-me a recuperar a dignidade. Não me causaram humilhação seja em particular como em público e respeitaram o meu espaço. Pessoas religiosas também me ajudaram naquela época, e foi bastante preciosa a ajuda que me deram. Eu particularmente penso que é uma grande maldade alguém que diz amar a D'us classificar alguém com qualquer tipo de transtorno como um simples pecador, como se o quadro por qual a pessoa passa seja apenas um "pecado". Basta lembrar-se do Rei David e de seus Salmos que relatam seu sofrimento. Nós estamos passíveis a sofrer, e sofrer não é sinônimo de ingratidão contra D'us. Rebelar-se contra D'us por conta do sofrimento é pecado, pois rebelar-se contra D'us de qualquer modo é pecado. Entretanto, muitas vezes o sofrimento serve não para o distanciamento entre o homem e D'us, e sim para uma aproximação. A vida não é um mar de rosas e creio que poucos são aqueles que realmente conseguem, sem nenhuma hipocrisia, estar satisfeitos com a situação em que se encontram em todo o tempo. Existem dias que são felizes, existem dias que são tristes. E as vezes a ordem é "se entristeça" (vide o Yom Kippur).

Abaixo, alguns vídeos interessantes do médico Dr. Jair Mari, nos quais ele explica brevemente o lado fisiológico desses transtornos:





Que o Eterno nos abençoe e nos livre do mal.
Edgard MacFraggin’