terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Os quatro níveis de interpretação bíblica e o Mistério

É interessante escrever aqui depois de um bom tempo. Ver o quanto o tempo passou e o que aprendi de novo. Nesse intervalo, comecei e ler o livro chamado "A Ética do Sinai", de Irving M. Bunim. Um livro excelente. Deveria ser lido por todos que professam a Fé Monoteísta. É um livro ortodoxo, sim. Mas vê-se claramente que a linguagem desses sábios judeus na maioria dos momentos foi muito semelhante à linguagem do Messias Yeshua [Jesus]. 
Os sábios dizem que um texto bíblico não possui apenas a interpretação literal, pois o texto bíblico é poético (lembrando que poético não tem nada a ver com poesia). A poética é a linguagem mais profunda, que apresenta diferentes níveis de interpretação. Ao assumir que um versículo deve ser traduzido APENAS literalmente, esquece-se do Mistério. Assim, a Bíblia passa a ter o mesmo valor de uma publicação científica ou um livro de História. Mas quando assumimos antes de tudo o Mistério, aí ela é o que ela: palavra inspirada por D'us. 
Os quatro níveis de interpretação são: "Peshat", "Rémez", "Derash" e "Sod" (A Ética do Sinai, Introdução, V). Com as primeiras letras dessas palavras, forma-se a palavra "PaRDeS". Essa palavra surge de literatura antiga judaica, e descreve as quatro abordagens da Torá. "Peshat" é o sentido literal, puro e simples do texto. Já para o "Rémez", segue-se a estrutura sintática e gramatical, considerando que determinadas palavras assumem um sentido simbólico ou metafórico. O "Derash" omite a estrutura sintática e até mesmo ignora-se o contexto e segue-se em vasculhar a Torá, em busca de alusões e associações. Já o "Sod" é a interpretação mais profunda do texto, de forma bastante espiritual, chegando a um significado mais profundo que os outros três. 


O livro dá como exemplo o seguinte: considere uma tonelada de carvão. Para uma pessoa comum, isso pode significar apenas isso, 1000 quilos de carvão. Esse é o primeiro nível, o "Peshat". Outra pessoa, mais religiosa, entende que o carvão foi feito por D'us, para que a humanidade pudesse se aquecer. Essa é a abordagem do "Rémez". Uma terceira pessoa estudaria o carvão, e o conseguiria transformar em gás, facilitando o transporte do combustível. Essa mesma pessoa poderia estudar mais ainda e produzir uma fibra sintética, o nylon. Ainda, pode-se demonstrar que um leva ao outro. Essa é a abordagem do "Derash". Mas, pode-se existir uma quarta pessoa, um físico, que consegue realizar fissão nuclear do carvão e liberar assim uma quantidade enorme de energia. Esse é o "Sod", o último nível. A primeira pessoa certamente vai achar a que a fissão nuclear é um mistério, e ela não poderá compreender profundamente. Apenas o físico, um cientista que estudou muito, que possui vasto conhecimento técnico, irá compreender. De modo análogo, apenas os grandes eruditos, que têm experiencias com o Eterno, podem chegar a esse nível. 
Em Jeremias 23:29, o Eterno afirma que "Sua Palavra, é como um martelo que despedaça a rocha". O Talmud comenta sobre esse versículo que quando o martelo bate, a rocha se parte em vários fragmentos; do mesmo modo, quando o Eterno fala, suas palavras tem diferentes expressões (70 expressões, segundo o Talmud). O Talmud afirma que "um versículo das Escrituras Sagradas pode admitir muitos significados". 
Que o Eterno nos abençoe e nos guarde,
Shalom Aleikhem, 

Edgard MacFraggin'



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