domingo, 20 de julho de 2014

Preciosas Janelas da Vida


Eu com a vovó Zilda - aproximadamente em 2005. 
 Recebi hoje a triste notícia de um amigo: sua avó, de abençoada memória, faleceu ontem. Lembro-me bem dela, lembro-me das vezes em que estive na casa de meu amigo e dos bons momentos que passamos juntos, de quando ela estava lá, das refeições que fizemos e das preces que rezamos juntos. Fiquei o dia hoje pensativo, e é meio inevitável lembrar de minha avó Zilda, de bendita memória. Ela faleceu em 2009, no final daquele ano, e deixou em nós uma saudade sem fim. Parece que esse ano para mim está cheio desses eventos. É a quarta pessoa querida para mim que falece esse ano.

                Acho que mais ou menos uma hora atrás estava pensando nisso: dificilmente um contemporâneo chega aos 20 anos de idade sem nunca ter vivenciado esse amargo sentimento de luto por conta de alguém próximo. Quando minha avó faleceu, eu tinha 22 anos de idade. Eu acho que ela chegou a viver uns 70 e poucos anos, entretanto, para mim, ela viveu apenas 22 anos. Durante 22 anos apenas eu pude desfrutar de sua presença. E acho que esse dado é muito mais válido e palpável para mim do que dizer que a expectativa de vida do homem moderno é de 80 anos de idade. Oitenta anos nada: são apenas 22, ou 10, ou 13, ou melhor, a somatória dessas frações. Acho que assim fica melhor explicado.

Eu (a esquerda), meu irmão (a direita) e o Donald
possivelmente em 2004/2005.
                Falando em tristeza, tenho, particularmente, passado dias tristes com relação ao meu cachorro, o Donald. Ele tem 14 anos de idade, está velhinho, tendo problemas de saúde recentemente. Muito provavelmente ele não tem mais muito tempo pra passar com a gente, infelizmente. Quando o Donald chegou em nossas vidas, eu tinha 13 anos de idade, foi em Junho de 2000. Eu posso me recordar desses últimos 14 anos com ele: ele estava lá quando eu terminei o Ensino Fundamental, ele estava lá quando eu terminei o Ensino Médio; ele estava lá quando eu me formei em Veterinária e ele estava lá quando terminei o Mestrado. Em mais da metade da minha vida ele esteve presente. E como foram momentos preciosos. Esses tem sido dias em que eu tenho pensado em qual o motivo da vida animal ser tão preciosa para nós. Não estou desmerecendo a vida humana – lembrem-se, uma coisa não anula a outra, ok? A questão é que eu convivi mais com meu cachorro do que eu convivi com alguns amigos que passaram pela minha vida. Quando minha avó faleceu, meu primo mais novo, por exemplo, tinha 12 anos de idade mais ou menos. Ou seja, eu convivi mais tempo com meu cachorro (de meus 13 anos até o presente – tenho 27 agora) do que meu primo conviveu com a vovó. Ainda, do início da minha convivência com o Donald eu tenho uma lembrança bastante clara. Dos 12 anos que esse meu primo conviveu com a vovó, talvez ele se lembre cerca de 6 anos apenas (estou deduzindo isso da lembrança mais antiga que tenho de minha avó, que foi em meu aniversário de seis ou sete anos, quando ela me deu de presente uma fatia de bolo confeitado e uma lata de Sprite! Que presente inesquecível, um dos melhores que eu já recebi!). Quando eu nasci, ninguém me disse que eu poderia conviver com a vovó por apenas 22 anos. Acho que subconscientemente me ecoava que poderia conviver com ela pelos 80 anos de expectativa de vida da mulher brasileira. Percebo assim que eu não tenho tanto tempo como eu imagino pra conviver com aqueles a quem eu amo.
                E eu acho que esse é um dos motivos pelos quais a convivência com familiares, com amigos e com os animais é tão preciosa. São janelas que inesperadamente se abrem em nossas vidas e depois se fecham abruptamente. Janelas preciosas, emolduradas em diamante, que deixam uma luz elevada nos iluminar durante algum tempo em nossas vidas. Talvez seja apenas a sequência dessas janelas que faça a vida valer a pena ser vivida. De que adianta viver 80 anos se não for pra cultivar relacionamentos, cuidar dos tristes e feridos, dar risadas, contar piadas, se alegrar, chorar e se emocionar?

???


Edgard MacFraggin' – em memória de minha avó e da avó do meu amigo.  

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