Essa época do ano, no Brasil e em
muitos outros países, há as celebrações natalinas. Cerca de dois anos atrás, o
Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, gravou uma mensagem desejando
“feliz natal” para os israelenses cristãos, desejando-lhes votos de felicidade
em suas festas. Lembro que fiquei sem entender o motivo dele ter feito isso.
Pensava comigo “como pode um judeu fazer algo do tipo?”... na mesma época, eu
cometi algo que hoje considero errado e acho que hoje entendo os motivos de
Benjamin Netanyahu, pelo menos em parte. Naquela época, via redes sociais, eu
critiquei duramente o Natal, chegando mesmo a fazer zombarias à respeito da
festa. Acabei ofendendo muita gente com minha falta de respeito, e por isso
peço perdão.
Geralmente, quando alguém se
levanta para criticar o Natal e outras práticas, o fazem no sentido de “lutar
contra idolatria”. Entretanto, se essa luta se torna mais pessoal, no sentido
de alguém se levantar para criticar outra pessoa, chamando-a de “idólatra”, a
coisa começa a ficar bastante mais séria para o crítico. Vejamos o que dizem os
rabinos sobre isso:
“Quando você acusa alguém e
pronuncia um julgamento sobre esta pessoa, dizendo que ela merece isto ou
aquilo, está pronunciando julgamento sobre si mesmo. Apesar do erro cometido
pelo outro parecer estranho à sua maneira de ser e de se comportar, você já
terá cometido de forma semelhante este mesmo erro. Se você acusa alguém de, por
exemplo, idolatria, você será, com certeza, culpado por orgulho – que é, em si,
uma forma de idolatria. E seu erro pode ser maior que aquele que você aponta,
pois o julgamento sobre você será ainda mais severo e crítico. Porém, se você
justifica aquele que está errado, desculpando-o pelo fato de estar ainda
aprisionado à sua encarnação e não poder controlar seus desejos, então você
estará justificando a si mesmo.” (trecho do livro “A Cabala da Inveja”, do
Rabino Nilton Bonder, pág. 113).
Bom, em minha opinião, tanto
quanto cristãos devem celebrar o Natal, os judeus não o devem celebrar. São
religiões diferentes, com costumes diferentes e deve ser “cada um na sua”. Mas
não quero entrar na parte ritualística ou espiritual do Natal e nem mesmo de
outras festas. Quero falar de questões mais “físicas” e não “rituais”. Porque
embora sejamos de religiões muito diferentes, temos algo em comum. E esse algo
em comum é o “ser à Imagem e Semelhança do Divino”. Vejamos isso...
Por conta de uma determinada
festa, crianças órfãs são visitadas todos os anos, e recebem presentes,
alimento e carinho. Por conta dessa festa, idosos são visitados em asilos e
recebem mais carinho e atenção do que recebem no ano inteiro. Doentes recebem
alegria em leitos de hospitais e os presos recebem carinho também. Pessoas
pobres recebem dignidade, seja em forma de alimento, seja em forma de roupas,
ou brinquedos. E essa festa é o Natal. E o que é lícito fazer no Natal? É
lícito e louvável fazer no Natal o que é lícito e louvável fazer no ano
inteiro. É licito “amar o próximo como a ti mesmo”.
Eu acho que quem quiser criticar
a prática religiosa dos outros, tem todo direito de fazê-lo. Mas criticar sem
ter nenhuma atitude, de que adianta? Se for para criticar, deve-se fazê-lo
muito mais com atitudes do que com palavras. Se você acha que quem celebra o
Natal está complemente errado em suas atitudes, mostre a ele como fazer então.
Se eles visitam crianças, idosos, doentes e presos uma vez por ano, quantas
vezes alguém que os critica deve visitar? É muito fácil ficar sentado apenas
criticando sem nunca se levantar da cadeira e ir estender a mão a quem
necessita. Se alguém acha que sua prática religiosa é tão mais elevada que a
dos outros, que demonstre isso com seus frutos, pois “pelos frutos se conhece a
árvore”. Então, faça caridade não apenas uma vez por ano, como muitos fazem
apenas no Natal. Faça caridade não só uma vez por ano, faça caridade pelo menos
uma vez por mês. Se nós não somos capazes de “amar ao próximo como a nós
mesmos” a quem vemos todos os dias, como o seremos de “amar a D’us”, a quem não
vemos?
Quero ler agora algo muito
interessante que Larry Norman, de bendita memória, escreveu. Ele dizia assim,
numa tradução livre...
“Você deve alimentar os pobres,
eles estão morrendo todos os dias; quando sua mãe perguntar se você alimentou
os pobres, qual será sua resposta? Você deve alimentar os pobres, você deve
obedecer; quando seu pai perguntar se você alimentou os pobres, qual será sua
resposta?
Existe um pequeno garoto deitado
no chão, tao fraco que não consegue levantar a cabeça, tão doente que não
consegue emitir um som. Há uma pequena bebezinha com os olhos bem fechados, seu
corpo queima em febre, não há comida para ela essa noite...
Você tem que alimentar os pobres,
você deve obedecer, quando os anjos perguntarem se você alimentou os pobres,
qual será sua resposta? Você tem que alimentar os pobres, eles estão morrendo
todos os dias, quando o Messias te perguntar se você alimentou os pobres, qual
será sua resposta?
Eles estão cortando as florestas
tropicais para alimentar vacas, empresas de Fast
Food não tem tempo a perder. Áreas alagadas e pântanos estão sendo
drenados, os animais e pássaros não têm mais lugar para ficar.
Conglomerados insidiosos negam
que estão envolvidos, com tanta falsidade fica muito difícil de resolver as
coisas, eles imprimem quilômetros de papel que não dizem nada, e assim outro
milhão de arvores são cortadas. Nas escolas, as crianças vão sem uma refeição;
eles estudam esse nosso país maravilhoso, mas deve parecer-lhes completamente
irreal. No Haiti, na África e na sua pequena cidade também, existem crianças
passando fome em todos os lugares e eles estão olhando para você...
Você tem que alimentar os pobres,
você tem que alimentar os pobres...”.
Alimentar os que têm fome, dar de beber aos que
tem sede, vestir aos que estão nus, visitar os doentes, cuidar dos idosos,
brincar com uma criança, tudo isso tem muito mais valor que longas horas de
estudo religioso e orações. Como ensinam os rabinos, nós “aprendemos mais sobre
o Eterno imitando-O do que contemplando-O”. Se você precisa de um motivo, uma
celebração para fazer o bem para o outro, ao invés de fazer bondade nessa época
em nome do Natal faça-o em nome de Chanukkah; compartilhe suas refeições de
Purim com os mendigos; visite os doentes em Pessach; vá a um asilo em Rosh
HaShana. E que um dia o Eterno nos permita fazer o Bem a todos a quem pudermos
todos os dias, independentemente de datas. Chag Chanukkah Sameach e que você
não perca a oportunidade de fazer uma bondade a alguém ainda nessa festa de
Chanukkah de 5775!
Edgard MacFraggin'