segunda-feira, 29 de novembro de 2021

"Eve of Destruction"

 O artista Barry McGuire tem uma música que tem uma letra muito interessante, a música "Eve of Destruction". O que você acha especificamente do trecho "hate your nextdoor neighboor, but don't forget to say grace"? ("odeie o seu vizinho, mas não se esqueça de orar antes de comer")

Aqui a música:



quarta-feira, 27 de junho de 2018

Reconhecimento


É possível reencontrar quem nunca foi encontrado? Ou refazer o quê nunca foi feito? Rever o que não visto? Reler o quê não foi lido?

É possível reconhecer quem nunca foi conhecido? Ou melhor, ser reconhecido por quem nem te conhece? 

Zygmunt Bauman - que infelizmente faleceu ano passado - já alertava sobre esses problemas da atualidade, a qual ele denominava de Modernidade Líquida (inclusive esse é o título de um dos livros dele). As situações, relacionamentos, laços, etc, são fluidos e escorrem como a água. É difícil contê-los. E, lamentavelmente, esse é o grande problema de minha geração e das gerações posteriores - muito embora hajam pessoas mais velhas que também sofrem com isso. 

Certamente não é porque se recebe "likes" dos 500 amigos do Facebook em uma foto ou publicação que quem curtiu te reconheça. Talvez ele(a) te admire ou tenha achado legal o que você publicou. Mas aquilo que arde dentro de todos nós, essa vontade de ser reconhecido, não pode ser saciada dessa forma. Quem acha que é reconhecido por conta disso mais cedo ou mais tarde vai ver que isso não é real. 

As pessoas só podem ser reconhecidas por quem as conhece. Eu só posso também reconhecer quem eu conheço. E, provavelmente, eu conheço quem me reconhece e vice-versa. 

Zigmunt Bauman disse em uma entrevista que conversou com um adolescente que lhe disse ter 500 amigos no Facebook. Bauman, com mais de 90 anos, pensou: "eu não tenho 500 amigos. Na minha vida inteira eu devo ter feito uns 5...". Logo, o que o garoto chama de "amigo" não é a mesma coisa que Bauman chama. E Bauman tem razão: nem todo "amigo" do facebook é realmente amigo. Podemos contar com todos? Eles estenderão a mão na hora da dor? Ou vão se mandar? Esses "amigos do facebook" não podem nos reconhecer. 

A experiência que tive foi a de esperar reconhecimento de chefes, professores e lideres espirituais (e certamente, tantos outros). É óbvio que não o tive. E isso me frustrou muito, mas um dia eu lembrei de conversas que tive com a Ana Mariza. Ela me falou diversas vezes sobre a importância da Linguagem e de coisas que Lacan falava. E aí eu tive essa sacada do re-conhecer. Reconhecer é conhecer de novo e agradeço a ela pelos ensinamentos que me passou. Esses líderes, chefes e professores jamais poderiam me reconhecer.

Saber que reconhecer é "conhecer de novo" me ajudou muito a perceber essas situações e observá-las de outras formas. Espero que esse post te ajude de alguma forma também...

Um abraço, 
Edgard MacFraggin'

PS: assista abaixo a entrevista de Zigmunt Bauman




domingo, 12 de junho de 2016

McLanche Tsedakah Feliz


Olá, amigos! Esse é o segundo post que faço aqui sobre formas criativas de se fazer Tsedakah (caridade). Caso você não tenha lido o primeiro, clique aqui para acessar o primeiro artigo sobre esse tema. 


Bom, eu gosto bastante de colecionar algumas coisas, principalmente revistas em quadrinhos. E de quando em quando, o McDonald's traz uma promoção com brinquedinhos bem legais no McLanche Feliz. Entretanto, não existe no Brasil - até onde eu saiba - McDonald's Kosher. Então, o que fazer diante disso?   

A primeira opção - a qual não considero a mais inteligente, embora seja a mais simples - é comprar apenas o brinquedo. Na presente data - junho/2016 - comprar apenas o brinquedo custa R$ 13,00 aqui no Distrito Federal. Só que a promoção completa - com o brinquedo, sanduíche, refrigerante e batatas fritas - custa uns R$ 18,00. Assim, todos esses alimentos "custam" R$ 5,00, mas com apenas R$ 5,00 não é possível comprá-los. Assim, economicamente falando, vale mais a pena comprar a promoção toda do que apenas o brinquedinho. 

E agora que vem a minha proposta de Tsedakah: um judeu ortodoxo poderia comer as batatas fritas e tomar o refrigerante e doar o sanduíche para um morador de rua ou então doar todos os alimentos para um morador de rua! Dessa forma, principalmente nessa segunda, a pessoa consegue o brinquedinho que tanto quer e além disso - e mais importante que qualquer brinquedinho - alimenta uma outra pessoa que talvez esteja faminta! 

Eu acho que essa última opção é a que trás o "melhor custo benefício" inclusive para a Criação. Nunca podemos nos esquecer de alimentar os pobres, isso é também retificar e consertar a Criação - Tikun Olam. Assim, da próxima vez que desejar um brinquedinho do McDonald's ou quiser dá-lo a seus filhos, compre a promoção completa e ensine a garotada a importância da Tsedakah desde a infância! 

O que achou dessa ideia? Escreva aí nos comentários o que achou!

Um forte abraço, 
Edgard MacFraggin' 


quinta-feira, 9 de junho de 2016

Três fatos sobre o Estado de Israel que alguns líderes religiosos fazem questão de esconder - mas eu não!

            Existem três fatos sobre o Estado de Israel, entre tantos outros, que alguns líderes religiosos amam esconder, mas que são fatos completamente ligados ao próprio Estado Israelense e fazem parte de sua História. São esses os fatos: primeiro, a maioria dos judeus israelenses é secular; segundo, o uso de maconha é legalizado no país desde 1993; e terceiro, em Israel fica a Capital Gay do Oriente Médio.


8% Ultraortodoxos, 12% Religiosos, 13% Tradicionais,
25% Não muito religiosos e 42% de Judeus Seculares.
Crédito: Central Bureau of Statistics 2009 (Israel).
Vamos começar falando dos judeus seculares. Bom, basta estudar a História do Estado de Israel pra saber que a maioria dos sionistas que tanto lutaram pela reconstrução do Estado desde o final do século 19 eram judeus seculares, inclusive ateus. Theodor Herlz, talvez o mais importante líder desse movimento de Retorno ao território no Oriente Médio, era um ateu convicto. Assim, na reconstrução do Estado de Israel de 1948, quem mais trabalhou e lutou foram os seculares ateus e não os religiosos. E geralmente achamos a atitude dos religiosos louvável - e é louvável sim. Mas na reconstrução do Estado, os religiosos tiveram pequena atuação. Quem mais lutou por isso foram os Judeus ateus e parabéns pra eles, pois se não fossem eles, provavelmente nem teríamos o Estado de Israel. Ainda, atualmente, grande parte dos judeus são seculares. E parabéns pra eles: não fossem eles, Israel não seria a potência que é hoje, não seria uma economia forte e nem teria um exército excelente. Devemos lembrar que os religiosos não trabalham em empregos seculares e nem servem no Exército. Alguém tinha que pôr a mão-na-massa e quem faz isso até hoje em grande maioria são os judeus seculares - e muitos deles são ateus, por incrível que pareça. De acordo com uma matéria do Jornal Haaretz, 42% dos judeus são seculares e 25% não muito religiosos. Isso dá mais da metade da população!

           
O uso de Maconha medicinal é legal
em Israel desde 1993
Agora, falemos da maconha. Ela é legalizada para uso medicinal desde 1993 no Estado de Israel. Existem duas principais substâncias nessa planta: o Tetrahidrocanabinol (THC) e o Canabidiol (CBD). Esse é responsável pelos efeitos recreativos da planta e este pelo uso medicinal. Israel é pioneiro em pesquisas científicas sobre a maconha e foi inclusive o primeiro país a isolar o composto THC. O composto CBD é usado no tratamento de pacientes que sofrem de Apoplexia, Neuralgia, Mal de Parkinson, entre outros. O nome de uma das empresas que plantam maconha legalizada em Israel é a Tikkun Olam. Não acredita em nada disso? Abaixo deixo algumas matérias sobre o tema. Basta clicar nos links em amarelo para acessar as matérias. Deve-se lembrar que no Judaísmo fumar não é pecado, diversos judeus religiosos, incluindo rabinos, fumam.

          
         E por fim, falemos da Capital LGBT do Oriente Médio. É na cidade de Tel Aviv que os homossexuais têm bastante liberdade de expressão. O que acontece é que nos demais países do Oriente Médio, países árabes, a homossexualidade é considerada crime. Israel é a única democracia do Oriente Médio e, como em toda democracia, as pessoas têm liberdade de expressão. Só em Israel é possível ter Paradas Gays, por exemplo. E por conta dessa democracia também outros grupos podem viver em paz e com a proteção do Estado, como cristãos, muçulmanos, drusos, etc.


            E aí? Você sabia dessas coisas sobre o Estado de Israel? Deixe aí nos comentários o que achou disso tudo!

            Forte abraço, e respeito a tod@s sempre!

            Edgard MacFraggin'          

domingo, 5 de junho de 2016

Uma Tsedakah que vale por Duas!

                
Há algum tempo tenho refletido em formas diferentes, criativas e mais efetivas de se fazer Tsedakah. Tsedakah é tudo que envolve caridades e ações sociais sob uma perspectiva Judaica. Dentro do Judaísmo, essa atuação social é mandamento, é algo que deve ser feito constante e ativamente.
                Existem formas diferentes de se fazer Tsedakah e cada uma delas têm sua importância própria. Tsedakah não é apenas dar esmolas quando alguém pede. Ela pode ser também comprar um produto que alguém esteja vendendo, e essa forma é mais elevada que simplesmente dar uma contribuição, pois se estabelece uma relação de comércio entre as partes e nas relações comerciais as partes estão negociando de igual para igual, não há hierarquia e, portanto, há dignidade e valorização das partes envolvidas.
                Tem um ponto que às vezes "complica" para as pessoas que seguem a Cashrut ou alguma outra forma de limite com relação aos alimentos que consomem. Será que um judeu pode comprar um produto que contenha carmim de colchonilha apenas para ajudar quem está vendendo? Ou um diabético comprar doces de um vendedor ambulante? Ou um hipertenso comprar salgadinhos vendedores de rua?
                Eu entendo que sim! E essa é na verdade uma forma de fazer o que eu chamo de "Uma Tsedakah que vale por duas"! Basta comprar o produto que você não irá consumir - por conta de seus próprios limites - e doar para uma outra pessoa que necessite, um morador de rua, por exemplo. Assim, com um único "gasto financeiro" você pode ajudar duas pessoas! Eu tenho procurado fazer isso há algum tempo. Quando vem me vender alguma coisa que eu não vá consumir eu compro mesmo assim e depois eu faço uma doação para alguém que não tenha os mesmos limites que os meus quanto ao consumo alimentar. Eu acho isso uma boa ideia, por isso quero compartilhar com vocês.

Um abraço!

#JudaísmoÉAtitude
#MenosBláEMaisPá
#MenosConversaEMaisPressa


Edgard MacFraggin'

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Sacrificando o Passado para Realizar Sonhos no Futuro

                 
                Estou na metade da leitura do livro "A arte de se salvar" - do Rabino Nilton Bonder - e como esse livro é excelente! Vale muito a pena a leitura dele. Nos faz refletir sobre como lidamos com coisas desagradáveis que nos aconteceram e o medo que elas encerram em nós com relação ao futuro. Serei muito suscinto nesse artigo, por isso recomendo a leitura do livro para um entendimento mais profundo sobre essas questões.
                Bom, segundo o Rabino Nilton Bonder, não podemos ter medo daquilo que ainda não conhecemos. É como falar que uma comida tem gosto ruim sem nunca a termos experimentado. Não faz sentido, mas é justamente isso que tentamos repetidamente fazer. Quando temos medo do Des-Conhecido estamos apenas preenchendo o Des-Conhecido com aquilo de Conhecido que já vivenciamos. É uma forma esdrúxula de tentar controlar aquilo que Des-Conhecemos. E essa tentativa de controlar pode chegar à pontos extremos, desde uma simples desistência sem nenhuma tentativa até um suicidio - local onde o controle é absoluto, mas de nada adianta mais.
                Assim, o autor do livro nos convida a compreender essas questões sob uma nova ótica. Não devemos sacrificar o Futuro por ter tido experiências amargas no Passado. Apenas no Futuro existe um espaço para os Sonhos. Não faz nenhum sentido alguém afirmar que "sonha quando chegar 1987 realizar tal feito". Ainda, tempos tanto anteriores ao nosso nascimento como posteriores ao presente não podem nos causar medo. Ninguém vivo atualmente sente medo de algo que aconteceu em 1808 e do mesmo modo não deveria ter medo hoje - 30 de maio de 2016 - de algo que vá acontecer amanhã ou no próximo ano.
                Desse modo, devemos então pegar tudo aquilo que nos foi ruim e entender que o Futuro não necessariamente será assim. No Futuro existe o "espaço" para sonhar e realizar sonhos. Diante de um Passado ruim, sacrifica-se o Passado e não o Futuro. Quem sacrifica o Futuro encontra apenas tristeza, depressão e suicídio.

Edgard MacFraggin' 

domingo, 26 de julho de 2015

Yeshua (Jesus) disse, de certa forma, que evangelismo não importa

Baseando-me nos "Doze Pontos de Berlim", documento do ICCJ (International Council for Christians and Jews), considero o Novo Testamento como literatura judaica do Primeiro Século. Assim, considere os trechos do Novo Testamento abaixo:

"Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então retribuirá a cada um segundo as suas obras." Mateus 16:27

"Quando, pois vier o Filho do homem na sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e diante dele serão reunidas todas as nações; e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; Pois tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era forasteiro, e recolhestes-me; estava nu, e vestistes-me; enfermo, e visitastes-me; preso, e viestes ver-me. Então perguntarão os justos: Senhor, quando te vimos faminto, e te demos de comer; ou com sede, e te demos de beber? Quando te vimos forasteiro, e te recolhemos; ou nu, e te vestimos? Quando te vimos enfermo, ou preso, e fomos visitar-te? O Rei responderá: Em verdade vos digo que quantas vezes o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes. Dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, destinado ao Diabo e seus anjos. Pois tive fome, e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; era forasteiro, e não me recolhestes; estava nu, e não me vestistes; enfermo e preso, e não me visitastes. Também eles perguntarão: Senhor, quando te vimos faminto, com sede, forasteiro, nu, enfermo, ou preso, e não te servimos? Então lhes responderá: Em verdade vos digo que quantas vezes o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. Irão estes para o suplício eterno, porém os justos para a vida eterna." Mateus 25:31-46

"Porque o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o julgamento, para que todos honrem o Filho, assim como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou. Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão. Pois assim como o Pai tem vida em si mesmo, assim também deu ao Filho ter vida em si mesmos; e deu-lhe autoridade para julgar, porque é o Filho do homem. Não vos admireis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida, e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo." João 5:22-29

                Esses textos do NT são muito bons e muito interessantes. Neles todos o próprio Yeshua diz como ele há fazer o julgamento das pessoas. E em nenhum momento ele diz algo do tipo "Aqueles que me aceitarem como senhor e salvador vão para o Céu e quem não me aceitar vai pro Inferno". Se há outros textos do NT que o dizem, pode até ser que sim, entretanto os outros textos não foram ditos por Yeshua. Mesmo no livro de Revelação, quando ele diz "Eis que estou a porta e bato..." não pode ser interpretado literalmente. Alguns dizem que "Yeshua está à porta do coração batendo...": obviamente isso não pode ser entendido de forma literal, pois se assim o fosse, imaginaríamos Yeshua batendo aonde no coração? Entre o átrio direito e a bifurcação das veias cavas? Ou ali perto da aorta? Fica claro que o texto é metafórico. Nós só chamamos alguém pra "ceiar/jantar em nossa casa" se é alguém que conhecemos e temos amizade. E se conhecemos, somos influenciados uns pelos outros e temos um estilo de vida parecido. Assim, se "Yeshua entrar e ceiar contigo" significa muito mais que teu estilo de vida será como o estilo de vida ensinado por ele. E qual estilo de vida ele nos ensinou? O de fazer boas obras.
                Em diversos pontos do relato de Yeshua ele se preocupa com dificuldades físicas das pessoas, e não com a "salvação espiritual" delas. Ele se preocupa com a multidão faminta de pão física e não em fazer um apelo evangelístico. Ele diz em Mateus 25 (o texto citado acima) sobre comer, beber, vestir, cuidar, etc, todas coisas físicas. Pode ser até que muitos dos "bodes malditos" a que ele se refere fossem excelente evangelistas: pregavam, pregavam e pregavam, mas quando alguém precisava de coisas até simples como comida, ele não o dava. Isso é muito sério. Podem citar quem quer que seja, não importa, Yeshua disse que julgará as obras de cada um.
                Como demonstrar amor por Deus? Só amando o próximo. É a única forma. Fazer caridade é forma mais profunda de servir a Deus. Os anjos podem cantar melhor e mais bonito do que ninguém. Mas tem uma coisa que eu nunca vi anjo fazer, e acho que nunca vou ver: nunca vi um anjo dar um abraço em um mendigo, ou comprar comida pra um mendigo, ou roupas, etc. O Eterno, bendito Seja, já nos comandou fazer isso. Se a gente não fizer, ninguém mais o fará. E se não o fizermos, seremos "malditos" diante de Yeshua.
                Pense nisso. Separe 5% do seu salário todo mês pra caridade, isso fará uma enorme diferença. O evangelismo, embora eu seja absolutamente contrário a ele, nunca deve vir antes da caridade. Os filhos do Eterno devem ser "vistos e não ouvidos". Os frutos de uma árvore não são escutados e sim observados. Mostre teus frutos pra todos os que precisarem diante de você.

Edgard MacFraggin'



quarta-feira, 10 de junho de 2015

Leitura de "Os Doze Pontos de Berlim"



O Documento pode ser encontrado nesse link, disponibilizado gratuitamente pelo website do ICCJ. Clique aqui para ler o documento.

Do que ele (também?) nos salvou

Para escrever esse artigo eu me baseei em muitas conversas que tive com uma grande amiga a sra Ana Mariza Fontoura Vidal, que é uma "grande mãe" pra mim. No período em que morei no interior de São Paulo ela me orientou bastante. Assim, muitas das ideias desse texto foram extraídas de reflexões dela ou de reflexões que ela me conduziu a chegar em nossos papos.
                Tenho observado de alguns meses para cá o quanto a figura de Yeshua/Jesus gera interesse e controvérsias em diferentes meios, mas principalmente entre Cristianismo e Judaísmo. Muitos judeus dizem, categoricamente, que "ele [Yeshua/Jesus] não pode ter morrido pelos pecados de ninguém, pois a Torá diz que cada um morrerá pelo seu próprio pecado" (vide Deuteronômio 24:16). Esse é um argumento muito forte e eu acho que tem bastante fundamento, pois cada um de nós vai morrer um dia e cada um pagará por suas transgreções. É isso o que eu acredito, mas pode ser que não seja assim. Muitas dessas coisas, só o Eterno sabe como será.
                Entretanto, não devemos jamais menosprezar tudo o que aconteceu por conta de Yeshua/Jesus. Quero falar justamente sobre isso: será que falar que Yeshua/Jesus nos salvou só pode ser interpretado em um único sentido?
                Eu acredito que não. Existe uma possibilidade mais ampla relacionado a essa questão. Vejamos os povos que cercavam os judeus na época de Yeshua/Jesus. Qual daqueles povos era sequer B'nei Noach1? Nenhum deles. E muito longe disso, faziam coisas abominavéis. E mesmo em outros continentes a coisa não era muito diferente. Peguemos um exemplo da Europa, os Vikings. Eu gosto bastante dos Vikings, admiro sua cultura e povo, entretanto, imagine viver naquela época: eles eram bárbaros, brutais, rituais assassinos eram comuns, entre outras coisas. Algo completamente longe do ideal Noético. Só com o avançar do Cristianismo que as coisas foram mudando. Por conta do Cristianismo, os povos foram cada vez mais, em certo sentido, se aproximando da prática das Leis de Noé.
                Talvez nem cristãos e nem muçulmanos conheçam as Sete Leis, mas a prática deles se aproxima e muito dessas Leis. Muito mesmo, talvez não de forma ideal, mas certamente muito melhor que a prática pagã-bárbara de outros povos. E quem foi peça chave nisso tudo? Justamente Yeshua/Jesus. Por conta de sua mensagem, embora muitas vezes mal interpretada, muitos povos e a humanidade de modo geral pôde se aproximar da prática das Leis Noéticas. E se um não-judeu que pratica essas leis serve ao Eterno, o Deus de Israel, então acredito que foi esse o tipo de "salvação" que Yeshua trouxe: a possibilidade de conhecer o Deus dos judeus, o monoteísmo bíblico. Por conta de Yeshua/Jesus, os povos tiveram acesso, via Cristianismo, à cultura e aos textos Judaicos. E isso é e foi algo muito bom. O que ainda nos falta é união e respeito às diferenças.
                Estamos no momento agora do diálogo inter-religioso. Esse é o tema do momento. Diversos rabinos e padres, desde o final da Segunda Guerra Mundial estão trabalhando em pról disso. Judeus/Judaísmo ficar criticando Cristãos/Cristianismo e vice-versa é algo completamente abominável e retrógrado. É lamentável ver isso ainda atualmente. Uma instituição Judaica ou Cristã que não fala sobre isso está parada no tempo. Uma instituição que fica criticando outra fé está remando contra a maré. Esse momento de brigar deveria nunca ter acontecido; mas como aconteceu, deveria ter ficado lá século 15 ou 16. O momento agora é de nos unirmos. Se Yeshua/Jesus é o Messias ou não, um dia todos vamos descobrir. Por enquanto, cada um tem a sua fé, que deve ser respeitada. E isso está até no documento "Os 12 pontos de Berlim"2. Vale a pena a leitura desse importantíssimo documento.
                Pense, reflita sobre isso. Yeshua/Jesus fez algo importantíssmo. E ele possibilitou sim a "salvação da humanidade". Pelo menos em certo sentido.
Edgard MacFraggin'

[1] B'nei Noach são os "Filhos de Noé"; são aqueles que seguem as Sete Leis Noéticas, leis pelas quais um não-judeu pode servir o Deus de Israel. Clique nesse link para ver as Sete Leis 
[2] A leitura desse documento pode ser encontrada clicando nesse link 

domingo, 4 de janeiro de 2015

Projeto andador para Cães - por Edgard MacFraggin'

Clique na imagem para vê-la maior; para salvar a imagem, clique com o botão
direito do mouse e depois clique em "Salvar imagem com
o"

Veja o andador pronto no vídeo abaixo:
Edgard MacFraggin'

sábado, 3 de janeiro de 2015

É pelos frutos que se conhece a árvore


             
  Minha mãe nasceu e cresceu em uma cidade muito pequena, no interior do Maranhão. Era uma cidade muito pobre, e as condições de vida eram muito ruins. Como somos uma família bastante assimilada por conta das perseguições contra os judeus, meus bisavós, avós, etc, frequentavam uma igreja ali nessa cidade, era uma Igreja Assembléia de Deus. A realidade dentro da igreja era extremamente rígida, segundo minha mãe. Era tão complicado que ela cresceu achando que, metaforicamente, “D’us era um homem de barba longa e branca, com um cajado na mão, pronto pra cacetar e castigar todo mundo”. Os líderes do local usavam interpretações absurdas dos textos bíblicos em benefício próprio.

                Os membros desse grupo religioso eram constantemente punidos pela liderança da igreja. Se uma irmã usava um simples batom, era acusada de ser “pecadora”. Usar um perfume melhorzinho então nem pensar: se a esposa do pastor percebesse, a irmã era posta em “disciplina”. Se um irmão se vestia um pouco melhor, era posto em disciplina e a culpa que ele tinha era que ele era “vaidoso”. Se alguém questionasse a atitude da liderança, era taxado de “rebelde”. Entretanto, os pastores e líderes, em suas vidas particulares viviam muito bem. Embora fossem raros na época, eles tinham automóveis, e eram carros bons para aquele tempo. Eles viviam integralmente do trabalho religioso, tinham seus salários pagos completamente pelo dízimo de quem frequentava aquele grupo religioso. É claro que ter um padrão de vida justo é muito bom, dificuldades físicas nos atrapalham a servir a D’us e Maimonides mesmo ensinava isso. Mas como um pastor podia ter um padrão de vida muito melhor que os membros que frequentavam sua igreja? O pastor recebia o dízimo de pessoas às vezes muito pobres e que até mesmo passavam fome. Os membros da igreja moravam em bairros horríveis e muito pobres, cheios de violência, enquanto o líder tinha um bela casa, e nela tinha todo o tipo de luxo daquele tempo. Será que isso é justo? Se alguém quiser ter luxos, tem todo o direito de ter. Mas que trabalhe para isso. Existem muitos líderes religiosos, como pastores, rabinos, etc, que além de exercerem o serviço religioso também tem seus empregos próprios empregos, sendo, durante a semana, profissionais liberais, funcionários púbicos, professores, médicos, etc. Além de contribuir para a sociedade, não são pesados para suas próprias congregações. Aos que vivem integralmente de seu ministério religioso é recomendável que tenham um padrão de vida compatível com o padrão de vida das pessoas que frequentam o local ao qual lideram. Isso é também “fugir da aparência do mal”.

                Ali naquele local que minha família frequentava, constantemente os membros passavam por humilhações, partidas da própria liderança. Dentro da tradição judaica, é enfatizado fortemente sobre a proibição de humilhar alguém. Vovó contou-me sobre uma mulher que não podia ter filhos. Por conta disso, ela foi considerada ali na igreja como uma mulher que carregava algum tipo de grave maldição. Isso me faz lembrar aquelas religiões tribais africanas, em que mulheres que não tinham filhos eram expulsas da convivência com a comunidade, eram extremamente humilhadas e além de carregar o sofrimento de não poderem ter filhos, tinham que carregar humilhação pública imposta pela liderança da tribo por conta de ela não poder ter filhos. E como é isso na tradição judaica? Diversas mulheres que não podiam engravidar eram na verdade mulheres elevadíssimas espiritualmente! Sarah, Raquel, Ana, a mãe de Sansão, entre outras, eram mulheres que não podiam ter filhos. E isso não era algo do tipo “D’us está te castigando, você deve ter cometido um grave pecado para isso ter acontecido” ou coisa semelhante. O Eterno tem seus planos. E essas mulheres, embora fossem estéreis eram mais elevadas espiritualmente do que muitas mulheres que tinham muitos filhos. As mulheres não são como vacas que tem que parir um bezerro por ano, e as vacas que não são capazes de parir um bezerro por ano são abatidas. Cada um tem sua própria medida, que o Eterno abençoe a todos nós. Que o Eterno nos livre de aumentar a dor dos outros, mas que possamos ser pessoas que ajudam os outros. Que nossa compaixão e benevolência sejam maiores que nossa rigidez.

                Era complicado também quando a igreja passava por alguma dificuldade. Se havia dificuldade financeira, a culpa era dos membros que não oravam o suficiente. Ou então, a culpa era dos membros por eles terem falta de santidade. A culpa era sempre dos membros, nunca da liderança. A liderança era aparentemente um exemplo de santidade a ser seguido sem nunca ser questionado. Eles se esqueceram de que somos todos humanos e todos sujeitos a ter falhas. Ninguém é perfeito. Podemos nos esforçar para melhorar e devemos fazer isso, mas até o nosso último suspiro seremos incomodados por nossa própria inclinação ruim. Como disse o Messias, “por que me chama de bom? Bom é só o meu Pai”. E é muito interessante ver como é isso na tradição rabínica. Por exemplo, o rabino Nilton Bonder, no livro “A Cabalá da Inveja”, na página 113, diz o seguinte:

“Quando você acusa alguém e pronuncia um julgamento sobre esta pessoa, dizendo que ela merece isto ou aquilo, está pronunciando julgamento sobre si mesmo. Apesar do erro cometido pelo outro parecer estranho à sua maneira de ser e de se comportar, você já terá cometido de forma semelhante este mesmo erro. Se você acusa alguém de, por exemplo, idolatria, você será, com certeza, culpado por orgulho – que é, em si, uma forma de idolatria. E seu erro pode ser maior que aquele que você aponta, pois o julgamento sobre você será ainda mais severo e crítico. Porém, se você justifica aquele que está errado, desculpando-o pelo fato de estar ainda aprisionado à sua encarnação e não poder controlar seus desejos, então você estará justificando a si mesmo.

Assim, semelhantemente, quando acusamos alguém de “falta de santidade” significa apenas que há falta de santidade em nossas vidas também, de alguma forma. Se acusarmos alguém de “não orar o suficiente” significa que de alguma forma também não o fazemos. Talvez, viver uma vida de santidade tenha muito mais a ver com a forma que nos postamos diante da vida, se agimos de forma ética, se respeitamos o próximo a cuidamos da Criação. Vivemos numa era em “ter é ser”, gostamos muito mais da aparência externa das coisas do que elas realmente são. Chimpanzés não podem fazer caridade, não podem dar alimento aos pobres, não podem fazer uma porção de coisas que o Eterno nos ordenou fazer. Entretanto, qualquer chimpanzé pode vestir um terno, ou uma saia até o calcanhar, ou ir pra igreja todos os domingos. É claro que se vestir bem e decentemente é muito importante, mas a vida não se resume ao modo que nos vestimos ou àquilo que comemos. De que adianta se vestir de maneira “santa” ou de maneira “kosher” e sair por aí humilhando todo mundo? Que o Eterno nos livre de viver uma vida de aparências, de parecer uma coisa por fora e na verdade viver algo bastante diferente daquilo que falamos com nossos lábios.

Tudo isso me faz lembrar sobre a Halachá. A forma de aplicar a Halachá pode ser explicada com a seguinte metáfora. Imagine que, metaforicamente, um pitbull queira servir a D’us. Por conta de sua natureza selvagem e violenta, esse pitbull precisa de barreiras para se controlar. Assim, a Halachá que um pitbull deve aplicar a si mesmo é semelhante à uma focinheira de couro forte e reforçada com uma coleira de ferro maciço. Algo muito forte e pesado, para que o pitbull possa se controlar e servir a D’us da melhor forma possível. Se esse pitbull aplica essa rigidez a ele mesmo, ele faz muito bem. Agora, imagine outra situação: esse mesmo pitbull que aplica a si mesmo uma halachá rígida como uma focinheira e coleira de ferro encontra um gatinho da raça angorá, uma raça conhecida por ser dócil e gostar muito de contato social. Daí, esse gatinho também quer servir ao Eterno. Será que esse gatinho que tem uma natureza completamente diferente do pitbull precisa de uma focinheira e coleira de ferro maciço? É claro que não. E o pitbull comete um grande pecado se ele quiser impor o uso de sua própria focinheira e coleira de ferro no gatinho. A focinheira e a coleira de ferro são cercas necessárias ao pitbull, mas não são necessárias ao gatinho. Se a focinheira e a coleira de ferro forem coladas no gatinho angorá, ele viverá uma vida infeliz e terrível, trará apenas sofrimento desnecessário à vida dele. E todos nós temos um lado pitbull e um lado gatinho dentro de nós mesmos. Todos nós temos um lado mais fraco e propenso a cometer determinados tipos de pecado e outro lado em que somos mais fortes. Por exemplo, uma pessoa que tem problemas com álcool não come nem mesmo um bombom de licor, pois isso pode ser motivo de grande tropeço para ele. Mas ele querer impor isso a todo mundo, é um grande pecado, pois ele coloca um julgo impossível de carregar em cima dos outros. Temos o dever de aplicar cercas às nossas próprias vidas, mas cometemos um grande erro ao querer que os outros vivam do mesmo modo que vivemos, que apliquem às suas próprias vidas as mesmas cercas que nos impomos e com a mesma rigidez. O julgo do Masshiach existe, mas ele é leve. O Eterno libertou um povo que era escravo no Egito para que ele fosse livre e não para se submeter a um novo tipo de escravidão, a um novo tipo de “humanos dominando humanos”. Escolher viver de forma mais rígida e limita não necessariamente é um sinal de mais santidade, embora possa ser. Escolher viver de forma mais limitada pode ser um sinal de que na verdade a pessoa tem um lado pitbull muito maior e mais forte que seu lado gatinho e assim precisa de muita rigidez em sua conduta – e essa pessoa faz muito bem em se aplicar uma conduta mais rígida, mas comete um grande pecado ao forçar os outros a viver de seu mesmo modo rígido.

                O Masshiach ensinou que é “pelos frutos que se conhece a árvore”. Um pitbull que serve ao Eterno deve ser um pitbull que produza bons frutos. Um pitbull que diz que serve ao Eterno com seus lábios, mas que ao olharmos suas atitudes não verificamos isso é um pitbull no mínimo mentiroso. Um pitbull que diz amar a D’us, mas continua mordendo todo mundo por aí, não serve a D’us. Se nós não cuidamos das pessoas que nós vemos, como vamos amar a D’us, a Quem não vemos?

                Edgard MacFraggin’

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O que não fazer durante o Natal


Essa época do ano, no Brasil e em muitos outros países, há as celebrações natalinas. Cerca de dois anos atrás, o Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, gravou uma mensagem desejando “feliz natal” para os israelenses cristãos, desejando-lhes votos de felicidade em suas festas. Lembro que fiquei sem entender o motivo dele ter feito isso. Pensava comigo “como pode um judeu fazer algo do tipo?”... na mesma época, eu cometi algo que hoje considero errado e acho que hoje entendo os motivos de Benjamin Netanyahu, pelo menos em parte. Naquela época, via redes sociais, eu critiquei duramente o Natal, chegando mesmo a fazer zombarias à respeito da festa. Acabei ofendendo muita gente com minha falta de respeito, e por isso peço perdão.

Geralmente, quando alguém se levanta para criticar o Natal e outras práticas, o fazem no sentido de “lutar contra idolatria”. Entretanto, se essa luta se torna mais pessoal, no sentido de alguém se levantar para criticar outra pessoa, chamando-a de “idólatra”, a coisa começa a ficar bastante mais séria para o crítico. Vejamos o que dizem os rabinos sobre isso:

“Quando você acusa alguém e pronuncia um julgamento sobre esta pessoa, dizendo que ela merece isto ou aquilo, está pronunciando julgamento sobre si mesmo. Apesar do erro cometido pelo outro parecer estranho à sua maneira de ser e de se comportar, você já terá cometido de forma semelhante este mesmo erro. Se você acusa alguém de, por exemplo, idolatria, você será, com certeza, culpado por orgulho – que é, em si, uma forma de idolatria. E seu erro pode ser maior que aquele que você aponta, pois o julgamento sobre você será ainda mais severo e crítico. Porém, se você justifica aquele que está errado, desculpando-o pelo fato de estar ainda aprisionado à sua encarnação e não poder controlar seus desejos, então você estará justificando a si mesmo.” (trecho do livro “A Cabala da Inveja”, do Rabino Nilton Bonder, pág. 113).

Bom, em minha opinião, tanto quanto cristãos devem celebrar o Natal, os judeus não o devem celebrar. São religiões diferentes, com costumes diferentes e deve ser “cada um na sua”. Mas não quero entrar na parte ritualística ou espiritual do Natal e nem mesmo de outras festas. Quero falar de questões mais “físicas” e não “rituais”. Porque embora sejamos de religiões muito diferentes, temos algo em comum. E esse algo em comum é o “ser à Imagem e Semelhança do Divino”. Vejamos isso...

Por conta de uma determinada festa, crianças órfãs são visitadas todos os anos, e recebem presentes, alimento e carinho. Por conta dessa festa, idosos são visitados em asilos e recebem mais carinho e atenção do que recebem no ano inteiro. Doentes recebem alegria em leitos de hospitais e os presos recebem carinho também. Pessoas pobres recebem dignidade, seja em forma de alimento, seja em forma de roupas, ou brinquedos. E essa festa é o Natal. E o que é lícito fazer no Natal? É lícito e louvável fazer no Natal o que é lícito e louvável fazer no ano inteiro. É licito “amar o próximo como a ti mesmo”.

Eu acho que quem quiser criticar a prática religiosa dos outros, tem todo direito de fazê-lo. Mas criticar sem ter nenhuma atitude, de que adianta? Se for para criticar, deve-se fazê-lo muito mais com atitudes do que com palavras. Se você acha que quem celebra o Natal está complemente errado em suas atitudes, mostre a ele como fazer então. Se eles visitam crianças, idosos, doentes e presos uma vez por ano, quantas vezes alguém que os critica deve visitar? É muito fácil ficar sentado apenas criticando sem nunca se levantar da cadeira e ir estender a mão a quem necessita. Se alguém acha que sua prática religiosa é tão mais elevada que a dos outros, que demonstre isso com seus frutos, pois “pelos frutos se conhece a árvore”. Então, faça caridade não apenas uma vez por ano, como muitos fazem apenas no Natal. Faça caridade não só uma vez por ano, faça caridade pelo menos uma vez por mês. Se nós não somos capazes de “amar ao próximo como a nós mesmos” a quem vemos todos os dias, como o seremos de “amar a D’us”, a quem não vemos?

Quero ler agora algo muito interessante que Larry Norman, de bendita memória, escreveu. Ele dizia assim, numa tradução livre...

“Você deve alimentar os pobres, eles estão morrendo todos os dias; quando sua mãe perguntar se você alimentou os pobres, qual será sua resposta? Você deve alimentar os pobres, você deve obedecer; quando seu pai perguntar se você alimentou os pobres, qual será sua resposta?
Existe um pequeno garoto deitado no chão, tao fraco que não consegue levantar a cabeça, tão doente que não consegue emitir um som. Há uma pequena bebezinha com os olhos bem fechados, seu corpo queima em febre, não há comida para ela essa noite...
Você tem que alimentar os pobres, você deve obedecer, quando os anjos perguntarem se você alimentou os pobres, qual será sua resposta? Você tem que alimentar os pobres, eles estão morrendo todos os dias, quando o Messias te perguntar se você alimentou os pobres, qual será sua resposta?
Eles estão cortando as florestas tropicais para alimentar vacas, empresas de Fast Food não tem tempo a perder. Áreas alagadas e pântanos estão sendo drenados, os animais e pássaros não têm mais lugar para ficar.
Conglomerados insidiosos negam que estão envolvidos, com tanta falsidade fica muito difícil de resolver as coisas, eles imprimem quilômetros de papel que não dizem nada, e assim outro milhão de arvores são cortadas. Nas escolas, as crianças vão sem uma refeição; eles estudam esse nosso país maravilhoso, mas deve parecer-lhes completamente irreal. No Haiti, na África e na sua pequena cidade também, existem crianças passando fome em todos os lugares e eles estão olhando para você...
Você tem que alimentar os pobres, você tem que alimentar os pobres...”.

Alimentar os que têm fome, dar de beber aos que tem sede, vestir aos que estão nus, visitar os doentes, cuidar dos idosos, brincar com uma criança, tudo isso tem muito mais valor que longas horas de estudo religioso e orações. Como ensinam os rabinos, nós “aprendemos mais sobre o Eterno imitando-O do que contemplando-O”. Se você precisa de um motivo, uma celebração para fazer o bem para o outro, ao invés de fazer bondade nessa época em nome do Natal faça-o em nome de Chanukkah; compartilhe suas refeições de Purim com os mendigos; visite os doentes em Pessach; vá a um asilo em Rosh HaShana. E que um dia o Eterno nos permita fazer o Bem a todos a quem pudermos todos os dias, independentemente de datas. Chag Chanukkah Sameach e que você não perca a oportunidade de fazer uma bondade a alguém ainda nessa festa de Chanukkah de 5775! 

Edgard MacFraggin'

domingo, 30 de novembro de 2014

A melhor forma de fazer Tsedaká


No livro “A Ética do Sinai”, de Irving Bunim, nos é passado o ensinamento de nossos sábios de que “sobre três pilares se sustentam o mundo: a Torá, a Avodá e a Tsedaká”. Traduzindo para um bom português, os pilares são “Torá, o Serviço ao Eterno (Avodá) e a Caridade (Tsedaká).
Eu venho de uma família completamente assimilada. Assim, não tive a oportunidade de frequentar uma escola judaica desde pequeno, de aprender Hebraico profundamente, etc. Muito das coisas que eu fiz foram bem tardiamente. Assim, tenho para mim que, a respeito dos “Três Pilares” citados anteriormente, dificilmente vou poder fazer excelentemente no curto-médio prazo “Torá e Avodá”, pois para isso se demanda um profundo conhecimento de Hebraico, de Mishná, Talmude, etc. Entretanto, para o pilar de Tsedaká, não há necessidade de conhecimentos profundos sobre o Judaísmo, esse é o pilar mais acessível a todos. De certa forma, o mais fácil de se fazer, inclusive. Talvez a grande dificuldade para nossos egos seja de que fazer Tsedaká não nos faz “aparecer muito” ou ficar em destaque diante da sociedade, pelo menos não deveria ser assim. Yeshua ensinava que “o que você fizer de caridade com tua mão direita, não permita que nem mesmo tua mão esquerda saiba”. Pois, caso alguém faça caridade e diga o que fez aos outros, já receberá sua recompensa, receberá em algum grau louvor humano e é o preço que se paga por ser exibido. “Aquilo que em secreto você fizer, o Pai que em secreto te vê, em secreto te recompensará”, ensina Yeshua.
Yeshua, em determinado ponto diz que haverá uma espécie de ajuntamento de todos nós humanos. E nesse dia, a humanidade será dividida não entre “judeus e não-judeus”, nem mesmo entre “cristãos e não-cristãos”, nem entre “muçulmanos e não-muçulmanos”, etc. A humanidade será divida entre os que fizeram o bem ao próximo e os que não fizeram. Yeshua dizia “vinde Benditos de meu Pai, pois eu tive fome e vocês me deram de comer; tive sede e vocês me deram de beber, estava nu e vocês me vestiram, estava doente e vocês cuidaram de mim, estava preso e vocês foram me visitar.” E essas pessoas perguntariam: “mas Yeshua, quando foi que te vimos nessas situações e te fizemos o bem? Isso nunca aconteceu!” E Yeshua responde: “quando vocês fizeram a qualquer pequenino vocês fizeram a mim!”. De modo semelhante, ele dirá ao outro grupo “Afastem-se de mim, malditos! Pois tive fome e não me deram de comer; quando tive sede, não deram o que beber; estava nu, doente e preso e vocês nem me vestiram, nem cuidaram de mim e nem foram me visitar.” E esse grupo responderá: “Mas quando foi que isso aconteceu? Nós nunca te vimos em nenhuma dessas situações?” e Yeshua responderá: “Quando vocês deixaram de fazer a qualquer um dos pequeninos, vocês deixaram de fazer a mim.” E eles dirão “Mas Yeshua, em teu nome expulsamos espíritos maus, curamos doentes e fizemos maravilhas!” E Yeshua responde: “eu não vos conheço”. O Rabino Abraham Joshua Heschel, um importantíssimo representante do movimento Chassídico moderno, se não me engano ele era da segunda geração de líderes depois de Baal Shem Tov, disse algo muito importante em um de seus livros. Ele dizia que “Quando a fé é substituída pela profissão de fé, a adoração pela disciplina, o amor pelo hábito; quando a crise é ignorada pelo esplendor do passado, a fé se torna mais propriamente uma herança tradicional do que uma fonte de vida; quando a religião fala mais pela autoridade do que pela voz da compaixão, sua mensagem torna-se sem significado. A religião é uma resposta aos problemas fundamentais do homem”. Não foi justamente isso que, em outras palavras, Yeshua disse?
Maimônides ensinava oito formas diferentes de se fazer Tsedaká. Existe uma forma mais elevada e outra muito mais baixa de praticar caridade. Vou explicar-lhes o que ele ensinava da forma mais elevada para a mais rebaixada. Basicamente, quanto mais se elimina a humilhação de quem precisa receber caridade, mais elevada se torna a Tsedaká. Quanto mais humilhação quem recebe Tsedaká precisa passar para recebê-la, mais rebaixada se torna a Tsedaká. Vamos lá....
A forma mais elevada é aquela que retira completamente a pessoa pobre da situação de humilhação e muitas vezes é forma mais fácil de Tsedaká. Exemplos dessa forma são dar um presente ou empréstimo para uma pessoa, ou acolhê-lo como sócio ou ajudando-o a conseguir um emprego. Muitas vezes, a Tsedaká mais espiritual não nos custa 1 centavo do bolso!
Um pouco mais rebaixada que a forma anterior, está em fazer uma doação secreta, aquele que doa não sabe para quem vai, aquele que recebe não sabe de onde veio a doação. Assim, nenhum vinculo de favores pode ocorrer. Do tipo, “eu te ajudei financeiramente, agora você me deve uma”. E é certamente menos humilhante para quem recebe.
Abaixo dessa está o doar anonimamente: o doador sabe para quem vai, mas quem recebe não sabe de onde veio a doação.
Logo abaixo está uma situação em que o beneficiado sabe de onde veio a caridade, mas quem doou não sabe para quem foi. Alguns rabinos amarravam moedas em seus xales e as jogavam para trás. Assim, quem precisasse de caridade poderia pegar as moedas sem ter que passar pela humilhação de ter que pedir.
Abaixo da anterior, está a de ajudar um necessitado antes que ele peça;
Em seguida, temos a de ajudar um necessitado depois que ele teve que passar pela humilhação de te pedir.
Em seguida, temos a de “doar menos do que o pobre necessita, mas doar de forma amável”.
E em último lugar, a forma mais baixa de se fazer caridade é doar de má vontade, que o Eterno nos livre disso.

Eu não conheço nenhum mendigo que fale hebraico, eu posso demonstrar amor para ele usando minha o própria língua, o português. Que o Eterno nos ajude a fazer o bem aos outros com aquilo que já temos a capacidade de usar, de falar, de agir. Que a cada um de nós seja concedida criatividade para curar as feridas abertas desse mundo que Ele criou e tanto ama.
Edgard MacFraggin'