
Muitas e muitas vezes vi ovelhas muito bonitas, simpáticas e até mesmo carismáticas. Ovelhas lanadas, de uma camada de bem lã espessa. Algumas vezes era possível até mesmo “afundar” a mão nessa lã, e sentir a pele quentinha e protegida ali em baixo.
Mas seguindo pelo velho ditado de “quem vê cara não vê coração”, essa lã podia às vezes ser na verdade mais um problema do que algo bom. Quantas vezes eu vi ovelhas aparentemente “gordinhas”, bem nutridas e saudáveis, mas que na verdade estavam caquéticas, esqueléticas e desnutridas... Algumas vezes, em estado deplorável. Muitas feridas ficaram escondidas por dias, piorando cada vez mais, se enchendo de larvas de miiase, apodrecendo e aumentando a contaminação, apenas porque estavam em baixo da lã... Mas, à distância e por causa da lã, as ovelhas pareciam estar “muito bem, obrigado”.
E nesse ponto o que me chama a atenção é a pergunta: o que é mais importante? A ovelha que mantém a lã em seu corpo, ou lã da ovelha? Pergunta idiota, eu sei. Obviamente, é a ovelha, pois sem ovelha, sem lã. E mesmo uma ovelha tosqueada, continua ovelha. Continua sendo quem ela é, e talvez até mais fácil para o pessoal que cuida dela perceber os problemas que ela pode estar passando. Mas poxa, nada contra ovelhas com lã, não mesmo. Elas são lindas. Mas exigem mais cuidado com o manejo.
Um dia, o Supremo Pastor das Ovelhas do Eterno disse o seguinte a respeito dos fariseus: “Ai de vós, condutores cegos! pois que dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, isso nada é; mas o que jurar pelo ouro do templo, esse é devedor. Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro, ou o templo, que santifica o ouro? E aquele que jurar pelo altar isso nada é; mas aquele que jurar pela oferta que está sobre o altar, esse é devedor. Insensatos e cegos! Pois qual é maior: a oferta, ou o altar, que santifica a oferta? Portanto, o que jurar pelo altar, jura por ele e por tudo o que sobre ele está; E, o que jurar pelo templo, jura por ele e por aquele que nele habita; E, o que jurar pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que está assentado nele.” (Mateus 23:16-22). Ele tinha toda razão. Ele sabia exatamente sobre o que estava falando. Era necessá
rio. E ainda é necessário. O capítulo 23 do livro de Mateus é um texto muito interessante e profundo. Um texto de reflexão pessoal diária. E antes de prosseguir, quero deixar bem claro que sou como os fariseus da época de Jesus. Na maioria das vezes, ajo da mesma forma. E devo lutar contra isso. Assim como todos os que são cristãos.
E agora chego ao ponto onde queria chegar. O farisaísmo. Muitos de nós somos fariseus. E eu me incluo nesse grupo. E sei que não é o correto. Quantos aqui já viram “metaleiros cristãos”? Para muitos, não se pode ser metaleiro e cristão simultaneamente. Como se uma coisa anulasse a outra. E nesses “muitos” estão juntos e de mãos dadas “cristãos tradicionais” e “metaleiros do mal”. Dizendo a mesma coisa. Pensando exatamente da mesma forma. E, creio eu, ambos errados.
Deus nos fez verdadeiramente livres. Somos livres. Ponto final. Podemos escutar Heavy Metal, fazer tatuagens e usar correntes, brincos e piercings. Podemos andar vestidos todo de preto e usar coturnos. Podemos escutar músicas fantásticas, de bandas usadas por Ele, para em primeiro lugar louvá-Lo e também para o alcance de outros. E para revolta dos “muitos” novamente, o Rock n’Roll em si, embora pareça absurdo, tem raízes cristãs. Sim, vocês leram exatamente isso. Vamos fazer uma breve revisão histórica sobre o nosso estilo preferido: surgiu “oficialmente” na década de 50, sendo uma explosão em Memphis, Tennessee, EUA. Teve nomes consagrados como Elvis Presley e Johnny Cash, entre tantos outros daquela mesma época. Mas a “nova” música que esses brancos estavam cantando, não tinha nada de nova em si mesmo, apenas o fato de que brancos estavam cantando. Apenas isso. Originalmente, era música negra. Os negros com muito habilidade entoavam o bom e velho Rock n’Roll de um jeito fantástico. Mas naquela época, se chamava Rhythm and Blues. E essa era o estilo de
música tocada nas igrejas protestantes americanas, onde os negros congregavam (essa separação entre igrejas para negros e igrejas para brancos é algo horrível. Somos iguais. E centenas de vezes, o negros foram melhores, mais amáveis e carinhos e educados que os brancos). Elvis mesmo era cristão assumido. O chamado “Rei do Rock” era cristão e gravou muitas músicas cristãs, além de apresentá-las em seus shows, podem conferir. Johnny Cash, Ray Charles, Little Richard e Fats Domino também gravaram músicas cristãs. Por causa da origem do estilo, provavelmente. Não sei se eles eram realmente cristãos, mas de forma alguma descarto essa possibilidade. Mas considerando que eles não eram cristãos, porque será que mesmo assim gravaram essas canções cristãs? Penso eu que por conta da origem do Rock n’Roll.

Aí depois
me aparece um cara cabeludo inglês, de óculos redondos e usuário confesso de LSD falando que a banda dele seria mais famosa que Jesus. E que “devíamos servir a nós mesmos” (em música criticando a conversão de Bob Dylan ao cristianismo). Sim, o Rock na verdade se desviou de sua origem. Mordam os lábios e cuspam fogo “cristãos tradicionais” e “metaleiros do mal”. O Rock tem origem cristã! Isso é fato histórico e irrefutável. Portanto, ser um “metaleiro cristão” é totalmente plausível. Talvez mais plausível do que não ser.

E começa o problema do farisaísmo metaleiro. Cristãos metaleiros não são reconhecidos como cristãos “à primeira vista”. Talvez nem na segunda e nem na terceira. E quando nos declaramos cristãos, as pessoas se assustam e talvez dentro delas se questionem se isso é possível. Mas as coisas estão mudando, os metaleiros cristãos estão aumentando em número e sendo até mesmo rostos conhecidos em igrejas tradicionais. E temos muita “lã” metaleira. Ah, sim, e como gostamos dela! Usamos roupas pretas, camisas de banda, coturnos, correntes, brincos e tatuagens. Para completar, colocamos a bíblia em baixo do braço e vamos pra igreja, bem trajados. E no fundo no fundo, gostamos disso. Gostamos de ser metaleiros cristãos. Somos revolucionários. Nós temos cabelos compridos e barba maior do que o todo mundo dentro da igreja e de várias outras pessoas na sociedade. E não tem nada de mais em ser assim, porque eu sou assim também. E Deus nos ama do jeito como somos.
Mas que adianta cuidar da lã apenas? Cuidar de ser metaleiro? Ficar girando em torno disso, sem glorificar a Deus pela forma de sermos? Não adianta nada! Somos fariseus, muitas e muitas vezes. Às
vezes, “igrejas underground” surgem. Acho muito legal, desde que elas preguem a mensagem da Salvação. Não adianta ter no louvor um cara cantando gutural se depois não tem mensagem. Ou se a mensagem ficar girando sempre em torno do tema “metal”, “somos metaleiros, sofremos preconceito” ou qualquer coisa do gênero. Isso é ser, como o Supremo Pastor disse em Mateus 23:27, “sepulturas bonitas”. Sepulturas adornadas no exterior, lindas, por fora... Mas por dentro, apenas um corpo morto, em estado avançado de decomposição. Não adianta nada ser da forma como somos e não pregar o evangelho para alguém. Não adianta se vestir de adornos metalescos e dizer por aí que é cristão e não ser realmente diferente dos outros. Fazer igual o que todos fazem: xingar bastante, beber até cair, mentir e ser desonesto. Isso não é ser cristão. Não mesmo. E provavelmente porque não agimos – de acordo com a concepção do grupo “muitos” – nem como cristãos reais (porque cristãos “não podem ser metaleiros”, porque “todo metaleiro bebe, xinga e desobedece aos pais”) e nem como metaleiros reais (metaleiros tem que “gostar” do diabo, escutar 666 the number of the beast do Iron Maiden e usar adornos anticristãos) sofremos preconceito dos dois lados. Na igreja e no meio underground. Nessa, devemos ser exemplares, devemos fazer o nosso serviço cristão, participar dos cultos e eventos, sermos servos dos demais, da mesma forma que o Supremo Pastor foi. Neste, devemos escutar metal junto com eles, ir em shows e se vestir de preto, mas sempre se lembrando a quem nós servimos, e espalhando a mensagem do Amor de Cristo.

Caso contrário, seremos apenas ovelhas peludas. Ovelhas cheias de lã e sem conteúdo por dentro. Ovelhas que quando tosadas pelo pastor apresentarão apenas magreza extrema, feridas infeccionadas e outros tantos problemas que poderiam ter sido evitados, se tivéssemos escutado a doce voz do Bom Pastor, sim, aquele lá do Salmo 23.
Edgard MacFraggin'